A classificação da Cidade Velha de Cáceres como
Património Mundial acontece em simultâneo com a de
Évora no ano de 1986, no caso cacerenho pela manutenção do seu aspeto intramuros mantendo as casas-fortes do sec. XIV a XVI que testemunham os conflitos internos espanhóis e a exuberância posterior da sua chegada ao novo mundo, sendo que muitos dos conquistadores pioneiros americanos são originários da Extremadura espanhola.
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Plaza Mayor de Cáceres, Espanha. |
A visita deverá começar pela praça Mayor, coração da cidade e porta de entrada para zona amuralhada. Nesta praça, além de uma ampla oferta hoteleira, e onde se poderá tomar um café à sombra das suas arcadas, admirando os Paços do Concelho, a porta da Estrella, as torres de Bujaco, de Yerbas e de Púlpitos, bem como o Foro de los Balbos. É também nesta praça que se encontra o posto de turismo de onde saem várias visitas guiadas.
Entre os Paços do Concelho e a muralha encontra-se um largo denominado Foro de Balbos, ocupado outrora pelo primitivo edifício camarário, e onde atualmente se pode admirar uma fonte renascentista e a estátua do Génio Andrógino, remetendo-nos para as origens romanas da localidade quando era denominada Norba Caeserina.
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Torre de Púlpitos e Arco da Estrella, Cáceres, Espanha. |
A entrada na Cidade Velha faz-se pelo arco da Estrella (sec. XIV/XVIII), uma curiosa porta da muralha, que deve o seu nome à Virgem homónima que a coroa, com uma forma enviusada que se deve à necessidade da entrada de carruagens e ao reduzido espaço disponível, dado a proximidade da parte posterior do palácio episcopal, o qual possuí um belo portal renascentista. Junto ao arco, a torre de Bujaco (sec. XII), de origem muçulmana, tal qual a maioria da muralha, e onde está instalado um centro de interpretação (entrada 2,50€/2019) que possibilita a visita ao adarve.
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Concatedral de Sta. Maria, Cáceres, Espanha. |
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S. Pedro de Alcantara na esquina da catedral de Cáceres, Espanha. |
Seguindo as pisadas da rainha Isabel I de Castela alcança-se a praça Sta. Maria e a sua igreja concatedral, elevada a esta categoria pela sua união à diocese de Coria. A igreja quinhentista de feições góticas, guarda no seu interior um curioso retábulo renascentista sem policromia, na capela-mor, e também o muito devocional Cristo Negro, uma imagem de madeira do século XIV, que sai em procissão pelas ruas da Cidade Velha, em penumbra e silêncio, pela Quaresma. (Entrada 4,00€/2019). No exterior da concatedral destaque para a imagem de bronze do santo extremenho, S. Pedro de Alcântara, ao qual os turistas costumam acariciar o pé.
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Palácio Episcopal de Cáceres, Espanha. |
Em redor desta praça começa-se a ter noção da quantidade de palácios e casas solarengas que constituem o casario senhorial medieval de Cáceres, sobretudo em redor da sua catedral. Detrás da cabeceira da concatedral situa-se o palácio (sec. XIV) e torre cilíndrica (sec. XII) de Carvajal, onde se situa o serviço de turismo da província e cujo pátio e jardins são visitáveis; segue-se no sentido contrário aos ponteiros do relógio, a casa dos Ovando (sec. XVI), depois o palácio episcopal (sec. XVI) em cujo pórtico se podem observar dois medalhões representando um casal de Índios. Do outro lado da rua por onde entrámos na praça ergue-se o palácio Mayoralgo (sec. XV/XVI) cuja fachada foi restaurada após o bombardeamento sofrido durante a Guerra Civil espanhola. A seu lado sai uma ruela (Cuesta de Aldana) onde se encontra uma dos mais curiosos palácios da cidade, denominado casa do "Mono" (macaco)! Trata-se da casa dos Pizarro-Espadero (sec. XV) que ao não terem descendência adotaram um macaco que acarinharam como a um filho. Nesta rua situa-se também um dos locais ideais para tomar um refresco e descansar os pés, sobretudo ao fim da tarde e principio de noite, quando no seu jardim se realizam concertos de música, podendo admirar as cegonhas que dão nome ao bar.
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Casa del Mono, Cáceres, Espanha. |
Depois de tocar os pés do santo encontramos outro edifício nesta praça de Sta. Maria, adossado à própria igreja e de aspeto palaciengo, ainda que originalmente fosse o convento de Sta. Maria de Jesus (sec. XV), que após a desamortização passaria a vários usos civis. Curioso que o portal renascentista não lhe pertença, tendo sido aqui colocado após a demolição do antigo seminário, do qual procede.
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Palácio de Golfines de Abajo, Cáceres, Espanha. |
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Palácio de Golfines de Abajo, Cáceres, Espanha. |
Na continuação da praça de Sta. Maria, o largo dos Golfines deve o seu nome ao palácio que aí se localiza, tratando-se talvez da mais importante casa do centro histórico. O palácio de Golfines de Abajo (sec. XV) cuja torre não foi mandada rebaixar, dado a família ter-se mantido leal à rainha Isabel de Castela, tendo inclusive acolhido-a na sua visita à cidade em 1480, como se comprova pelo uso da insígnia real na sua fachada, na janela quinhentista superior. Também pela sua fachada se podem apreciar aspetos do gótico, renascimento e plateresco que o marcam. O interior (entrada 2,50€/2019) permite conhecer um palácio e a sua evolução ao longo dos séculos, tendo até ao sec. XX sido residência dos descendentes dos seus construtores, destacando-se no interior sala de Armas da família.
Ainda antes de entrar na praça de S. Jorge, o conselho é descer a rua à esquerda, ao encontro de um pequeno museu particular que recria uma casa muçulmana, e ao fundo da rampa a porta da muralha, chamada o Arco do Cristo. Estamos na antiga judiaria velha, o gueto onde residiam os sefarditas, com casas pequenas e humildes, e onde a ermida de Sto. António ocupa o espaço da antiga sinagoga. É neste bairro que se encontra uma galeria de arte / bar cujo jardim permite um panorama sobre o bairro judeu e o fronteiro santuário da Virgem da Montanha, padroeira de Cáceres.
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Igreja dos Jesuítas ou do Sagrado Sangue de Jesus, Cáceres, Espanha. |
De regresso à praça de S. Jorge o primeiro passo é descobrir o jardim secreto que aqui se localizam, ideal para recuperar energias depois das subidas e descidas da judiaria. Outro dos palácios visitáveis (entrada 3,50€/2019) na zona intramuros é a Casa Becerra (sec. XV), também ela apeada da sua torre ao contrário, dado os aqui residentes terem sido contrários à rainha Isabel I de Castela, coisa que ocorre em todas as casas fortaleza medievais da zona histórica, com algumas exceções. Contudo os olhos neste local vão para a igreja e colégio jesuíta de S. Francisco Xavier (sec. XVIII) cujas torres permitem ter uma visão de pássaro do centro histórico (entrada 1,00€/2019). Repare-se na escadaria de acesso à imagem de S. Jorge guerreando o dragão, ato que anualmente se recria na cidade para homenagear o padroeiro.
Para além do Cristo Negro, que custódia a concatedral de Sta. Maria, outras imagens saem em procissão por alturas da Semana Santa, festa maior da cidade, a qual se pode conhecer no museu temático, localizado na cripta da igreja jesuíta, com tudo o relacionado com esta manifestação religiosa além de poder-se aceder ao aljibe do convento (entrada 2,50€/2019).
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Casa de Solis, Cáceres, Espanha. |
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Torre de Sande, Cáceres, Espanha. |
Subindo a rua Cuesta da Compañia, chega-se a outro dos núcleos patrimoniais da Cidade Velha, a praça das Veletas e praça S. Mateus. À esquerda na subida, encontra-se a rua Monja que permite ir ao encontro da Casa Solis (sec. XVI) com o seu escudo familiar e matacão circular. Uns passos mais à frente a torre de Sande (sec. XIV) coberta de vegetação que esconde várias janelas góticas geminadas.
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Palácio de Cigüeñas, Cáceres, Espanha. |
Já na praça de S. Mateus, a igreja homónima ocupa o local da antiga mesquita, sendo o atual templo do século XIV tendo servido de panteão a várias famílias locais. Na transição para a praça das Veletas e fronteiro à igreja de S. Mateus encontra-se o convento de S. Paulo (sec. XV), de freiras clarissas, conhecidas pelos seus doces conventuais. Contudo o palácio e torre Cigüeñas (sec. XIV), a mais alta da cidade, dado à época da sua construção terem sido desmanchadas as torres dos adversários da rainha Isabel I e recompensado o proprietário desta, o capitão Ovando, pelos seus méritos militares e lealdade. Atualmente é sede do Comando Militar acolhendo no piso térreo uma exposição de armas (entrada gratuita/2019).
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Palácio de Veletas, Cáceres, Espanha. |
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Algibe do museu de Cáceres, Espanha. |
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Convento de S. Paulo, Cáceres, Espanha. |
Ainda na praça das Veletas, além do consulado português, situa-se o palácio que dá nome à praça, e que ocuparia a zona do alcácer muçulmano acolhendo atualmente o Museu de Cáceres, com coleções de arqueologia e etnografia, e que esconde um dos tesouros da Cidade Velha, o algibe muçulmano que recebe as águas do patio superior, e cujo abóbadas são suportadas por colunas com arcos de ferradura (entrada gratuita/2019). Imperdível!
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Selfie em Cáceres, Espanha. |
Toca agora descer a rua Ancha, onde se encontram alguns dos melhores hotéis da cidade, com destaque para o
parador (pousada) situada no antigo palácio dos Marqueses de Torreorgaz (sec. XVIII) ao qual se uniram as casas de Ovando Mogollón, Pereo e Paredes (sec. XV) ou o hotel Relais & Chateau Atrio com o seu restaurante com duas estrelas Michelin.
Passado o largo de Sta. Clara e o seu mosteiro de clausura (sec. XVII), seguimos à direita pela rua Pizarro, local de petiscos e de bares noturnos, zona de atrativo para depois de jantar. Nessa mesma artéria encontra-se o museu Centro de Artes Visuales Fundación Helga de Alvear, a mais importante coleção de arte contemporânea particular em Espanha (entrada gratuita/2019).
Antes de regressar à Plaza Mayor, uma referência para o Paseo de Canóvas, espaço verde e verdadeiro ponto de encontro da população local ao redor do qual se podem encontrar restaurantes e bares com preços mais acessíveis que aqueles que se localizam na zona monumental, e com uma oferta mais popular, nos quais se pode vivenciar o quotidiano da população local.
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Igreja de Santiago Maior, ao fundo o palácio de Godoy, Cáceres, Espanha. |
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Torre de Espaderos, Cáceres, Espanha. |
Atravessando novamente a Plaza Mayor, a última referência de visita em Cáceres vai para o núcleo da igreja de Santiago Maior. Esta pode-se considerar o mais belo templo cacerenho (sec. XII/XIV). Além dos belos portais exteriores de arquivoltas, no interior destaca a sua abobada quinhentista e o retábulo atribuído a Alonso de Berruguete, o maior escultor do renascimento espanhol. Frente à igreja o palácio de Francisco de Godoy, com uma bela janela de esquina com brasão familiar. Nas proximidades a antiga porta da muralha com a torre de Espaderos, também ela desmontada pela traição à rainha Isabel I, com uma bela janela geminada e um matacão de esquina.
Não tudo o que há para ver e experimentar em Cáceres fica descrito atrás, pois cada visita e regresso a esta cidade medieval permite encontrar algo novo ou a observar com outra visão, destapando novos conhecimentos sobre esta cidade que dista pouco mais de 1 hora de distancia desde fronteira lusa.
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