Antiga Sé de Elvas

Antiga Sé de Elvas.

Qualquer um que chegue ao centro histórico de Elvas tropeça obrigatoriamente na Sé de Elvas. Assim seguimos chamando os elvenses à igreja de N. Sra. da Assunção, matriz local, que teve dignidade episcopal desde a criação da diocese elvense em 1570, pelo papa Pio V até à sua extinção em 1882, quando por vicissitudes várias Elvas pagaria o preço da sua fidelidade a D. Miguel, quando perde o episcopado e a capitalidade distrital em favor de Portalegre afim aos liberais.

Deveu-se a D. Manuel I a construção da nova igreja elvense destinada a dar uma nova centralidade a Elvas, que anos antes o mesmo monarca elevera à categoria de cidade (1513), abrindo a hoje denominada praça da República e entregando a edificação do novo templo a Francisco de Arruda, que vai conjugar num edifício tradogótico a estética ascendente da arte manuelina.

Órgão barroco da Antiga Sé de Elvas.
A fachada, simples, invoca uma torre defensiva, encimada por um coruchéu (sec. XVII) sobre a casa dos sinos. O adro e escadaria permitem entrar na antiga Sé, por um portal de estilo neoclássico que o bispo D. Lourenço Lencastre aqui mandou colocar substituindo o primitivo de feições manuelinas.

Transposta a porta o templo abre-se cheio de luz, iluminado pelas janelas laterais (sec. XVIII), permitindo contemplar a harmonia da decoração manuelina e do barroco. Capitéis, mísulas, abóbadas e fechos que exemplificam a tipologia manuelina de cordas, personagens mitológicas e novos produtos que chegaram à Europa quinhentista durante as Descobertas.

Capela-mor da Antiga Sé de Elvas.
Das muitas memórias que têm este templo elvense como cenário, a que mais vezes reproduzo é a da primeira vez, ainda menino, de assistir ao enterro de Jesus que põe ponto final à procissão que se realiza na sexta-feira Santa. Eram anos em que tal evento congregava grande parte da população local, a qual depois do périplo pelas ruas do centro histórico, enchia a Sé para assistir ao depositar do corpo de Cristo num túmulo que se erguia na capela-mor, e o qual fechavam com grande estrondo, ecoando o som seco pela Sé, dando sinal a que se abandonasse a igreja em silêncio em sinal de respeito ao Cristo sepultado. Aquele barulho seco do fechar da tampa do sepulcro ainda ecoa nas minhas recordações.

A capela-mor, presidida pela pintura oitocentista italiana representando a Assunção da Virgem, orago da Sé, esta emoldurada por trabalhos em mármores cinzas, brancos e rosas que no século XVIII transformaram a cabeceira do templo adaptando-a aos novos gostos barrocos, elaborados pelo artista elvense José Francisco de Abreu, responsável também pelos restantes retábulos marmóreos do corpo da igreja.

Capela de Sto. António, Antiga Sé de Elvas.
Além do rodapé alto de azulejos setecentistas que rodeiam as naves laterais, merece ainda destaque os dois altares de talha dourada aos pés da igreja, sendo que o do lado do evangelho, apresenta uma curiosa tela representando a Virgem de Guadalupe, oferecido por João de Leão, emigrante elvense no México, da autoria de Juan Correa e datado de 1673, sendo exemplo único da pintura barroca italiana em Portugal. Outros dos mestres da pintura presentes na Sé é Bento Coelho da Silveira, pintor régio seiscentista, cujo pintura sobrevivente ao terramoto de 1755 se pode observar em Lisboa no Museu de Arte Antiga, na igreja de S. Roque, S. Pedro de Alcântara ou na de S. Cristóvão, e que em Elvas deixou a representação de Santo António de Lisboa recebendo o Menino Jesus. Curioso ainda que a primitiva capela de Santo António se esconde detrás da atual, agora cartório paroquial, com abóbadas e azulejaria. Também Wolkmar Machado (sec. XVIII) deixou a sua marca na Sé com uma pintura da Conceição da Virgem.

Retábulo de N. Sra. Guadalupe, Antiga Sé, Elvas.

Sala do Cabido da Antiga Sé de Elvas.
Enquanto "moraliano", leia-se fã de Luis de Morales, já antes escrevera uma crónica sobre este pintor  renascentista e as suas tábuas na Sé de Elvas, que se podem admirar no museu de Arte Sacra, anexo à Sé, e onde além destas pinturas se pode visitar a Sala do Cabido, com a sua decoração barroca, e contemplar outras peças que ao longo dos séculos têm permitido à antiga Sé celebrar dignamente os ritos canónicos.

Porta do Sol da Antiga Sé de Elvas.
Antes de sair por uma das portas laterais que ainda mantêm as originais decorações manuelinas, um olhar para o órgão grande da Sé, localizado no coro alto, e que não deixa ninguém indeferente na sua exuberante talha dourada oitocentista.

Mais segredos e pequenas joias esconde a catedral elvense que se deixam à perspicácia do visitante para as ir descobrindo, sejam os esgrafitos das abóbadas, as sereias manuelinas, os azulejos da sacristia ou hissope eternizado por Cruz e Silva no seu poema heroíco-cómico que conta as aventuras do deão Lara e do bispo Lencastre. Entretanto nós os elvenses continuaremos a combinar encontrar-nos ao lado da Sé!



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