 |
Silueta de Campo Maior. |
Se há um sitio onde as flores nascem quando o povo quer, esse local é a vila de Campo Maior, no Alentejo. Estamos a falar das Festas do Povo, que acontecem quando o povo decide fazê-las em anos indeterminados, sem uma periodicidade definida, e que se espera que em 2020 floresçam de novo as flores de papel para celebrar o desejado título de Património Imaterial da Humanidade.
Se à arte de criar flores com as mãos, juntarmos a doce alegria do cantar e bailar ao som das saias, música popular alentejana, e o seu sotaque cantado temos um pequeno resumo do caráter das gentes campomaiorenses.
A vila passa a integrar o reino de Portugal com o Tratado de Alcanizes, mas a sua proximidade territorial, e sentimental, a Espanha fizeram as gentes saltar a fronteira com contrabando às costas, origem da Delta Cafés, empresa aqui sedeada e que dinamiza a economia local. No complexo Delta pode-se visitar o Centro do Conhecimento do Café (museu do café) e a Adega Mayor, que são um complemento ideal ao roteiro pelas ruas da vila.
O coração de Campo Maior é o seu jardim, que divide o centro histórico da zona de expansão residencial, servindo de ponto de encontro e refresco ao habitantes e visitantes, e desde o qual iniciamos o roteiro, junto à estátua do comendador Manuel Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés.
 |
Janela na rua 13 de dezembro, Campo Maior. |
Percorramos a rua capitão Manuel António Vieira e a rua 13 de dezembro atendendo à brancura das fachadas do casario, apenas quebrada pelo escuro das grades que lhe fecham as janelas, algumas das quais de fina feitura. Uma pequena travessa abre-nos à praça da República, chamando-nos a atenção a figura que ao centro se eleva sobre uma coluna, numa representação da justiça, tornando este pelourinho (sec. XVI/XIX) exemplar único e excecional em Portugal.
 |
Pelourinho de Campo Maior. |
Para sair da praça usemos o túnel aberto sob os Paços do Concelho (sec. XVII) para seguir em direção à Matriz. A igreja dedicada a N. Sra. da Expectação é uma enorme massa que se ergue no diminuto largo dr. Regala, forçando o erguer da cabeça para observar a sua fachada entre duas torres. Contudo é por ventura o seu interior o que mais seduz, ao tratar-se de uma igreja-salão ampla onde no século XVIII são introduzidos os retábulos marmóreos.
 |
Matriz de Campo Maior. |
 |
Matriz de Campo Maior. |
 |
Capela dos Ossos, Campo Maior. |
Saindo lateralmente pela igreja no adro sobre-elevado encontra-se a capela das Almas do Purgatório, o cartório paroquial e a capela dos Ossos. Este ossário ergueu-se em 1766 como memorial aos mártires da explosão do paiol do castelo, em 1732, que exterminou quase 2/3 da população campomaiorense, sendo após a de Évora, a segunda maior de Portugal, sendo curioso o facto de ainda hoje se manter a tradição de rezar pelas almas destas vitimas, o que não se verifica noutras congéneres lusas.
 |
Misericórdia, Campo Maior |
 |
Esquina da rua da Misericórdia com a rua João Minas, Campo Maior. |
Descendo a rua 1º de maio e seguindo à esquerda a rua da Misericórdia, convém aproveitar para dar uma espreitadela à fachada da igreja homónima (sec. XVI) no largo e admirar a fachada barroca da antiga casa da Misericórdia. Uns passos adiante, e antes de subir a rua Direita, um dos recantos mais curiosos de Campo Maior que mantém a tradição de ponto de encontro dos mais idosos para saberes das novas da terra e passar lista para ver quem vai faltando a este encontro, junto ao relógio e à fonte "dos velhos".
Subindo a rua Vasco Romão chega-se à rua Sta. Beatriz da Silva, santa natural desta vila e fundadora da ordem das Concepcionistas, cujo convento de clausura local (dedicado a Sto. António) se situa junto ao baluarte de S. Sebastião, sendo que aqui se situa a casa-museu onde nasceu Beatriz da Silva em 1424. Daqui ao castelo é um passinho, sendo que este um dos castelos de defesa da raia, de possível origem islâmica e posterior reforço pela dinastia afonsina e mais tarde de Avis. Dentro do património castrense, merece uma palavra a recém recuperada fortificação seiscentista que envolve a vila fronteiriça de Campo Maior.
 |
Castelo de Campo Maior. |
As muralhas abaluartadas foram levantadas no pós restauração, tendo sido desenhada por Nicolau de Langres, e conservam-se em regular estado de conservação abraçando ainda a maioria do centro histórico, tendo resistido ao longo dos séculos aos ataques, mas tendo, nos inícios do século XIX, caído nas mãos dos espanhóis (1801) e dos franceses (1811), não permanecendo, em ambos casos, mais de 8 dias seguidos sob domínio estrangeiro. Além das muralhas e restantes obras militares merece menção os vários quartéis em torno da muralha medieval e a Porta da Vila (sec. XVIII).
 |
Palácio Visconde d'Olivã, Campo Maior. |
 |
Igreja S. João Batista, Campo Maior. |
Desçamos agora em direção ao largo do Barata, para ir ao encontro do palácio Visconde d'Olivã (sec. XVII), onde além da biblioteca da vila, se encontra um lagar-museu que possibilita conhecer a forma tradicional de extração de azeite. Em frente do outro lado da praça, no antigo Assento militar esta localizado o museu Aberto, que além de possibilitar conhecer o património cultural construído e imaterial de Campo Maior.
Para terminar este roteiro campomaiorense basta agora subir a rua de S. João e conhecer a igreja homónima (sec. XVIII), cuja fachada é testemunho do império português personalizado por D. João V.
Resta-nos regressar ao jardim, para nos refrescarmos ou partir ao encontro duma tasca ou restaurante onde recuperar forças depois de percorrer as ruas e ruelas de Campo Maior.
 |
Estátua do Coomendador Rui Nabeiro, Campo Maior. |
TAMBÉM TE PODE INTERESSAR
Esplendido!
ResponderEliminar