Bérgamo, o essencial e o imperdível para fazer numa visita

Citta Alta vista desde San Vigilo, Bergamo, Italia.
Bérgamo, a 40 km de Milão, é uma cidade de 120.000 habitantes, e que se afirma paulatinamente como um destino turístico independente de Milão, quer pelo seu aeroporto internacional quer pela cada vez maior afirmação do seu património histórico, entre o que se encontram as suas muralhas, classificadas em 2017 como Património Mundial em conjunto com outras localidades que também detêm fortificações venezianas dos séculos XVI e XVIII.

A cidade apresenta-se geograficamente dividida entre a Cittá Alta, no cimo da colina, onde se encontra o centro histórico, e a Cittá Bassa, zona comercial e de desenvolvimento da urbe. Desde a sua origem, romana, passou por ser um território controlado por Lombardos e Francos até 1098 quando se proclama cidade-estado independente, unindo-se à Liga Lombarda. No sec. XIII será controlada pelos Visconti de Milão e desde 1428 pertencerá à República de Veneza. Passou ainda por fazer parte do Reino Lombardo-Veneto, depois das Invasões Napoleónicas, até à constituição do Reino de Itália em 1861.

Capela Colleoni, Bergamo, Italia.

Mura Venete

Muralha Veneciana, Bérgamo, Itália.

Porta de S. Tiago, Bérgamo, Itália.
A riqueza da sua história é visível sobretudo na Cittá Alta, abraçada pelas muralhas venezianas (mura venete) que serviram para defender e preservar o interior do burgo histórico, e que são atualmente zona de passeio e de running para os locais. Começadas a construir em 1561, nunca sofreram nenhum ataque, estando constituídas por 14 baluartes e quatro portas, sendo a mais bela a porta de San Giacomo, que enfrenta a Cittá Basa, edificada em mármore branco e encimada pelo baixo-relevo do leão alado, símbolo de S. Marcos e da República de Veneza. Desde este ponto tem-se uma boa panorâmica sobre a Cittá Bassa, sobretudo ao entardecer.

Atravessando a porta encontramos, entre a muralha e a rua Giacomo, o Palazzo Medolago com a sua fachada neoclássica. Ao cimo da rua Giacomo encontra-se a Piazza Mercato delle Scarpe, ponto de irradiação de turistas, dado ai situar-se a estação superior do funicular que facilita a subida ao monte, ainda que o acesso pedonal, desde a estação inferior do funicular, discorra entre sombra de árvores numa azinhaga que termina junto à porta de San Giacomo.

Porta S. Alexandre, Bérgamo, Itália.
As restantes portas são as Sant'Agostino, San Lorenzo e Sant'Alessandro, junto à qual se encontra a Cittadella, espaço fortificado medieval construído durante o governo de Milão, liderado pelos Visconti.

Gombito

Polenta e Osei, o doce típico de Bérgamo.
A coluna vertebral da Cittá Alta são as ruas Gombito e Bartolomeo Colleoni ao longo das quais se situam alguns dos principais atrativos do centro histórico de Bérgamo. É também nesta rua que poderás encontrar lojas dedicadas à "Polenta e Osèi", uma doce especialidade local que nada tem que ver com a polenta (preparado de farinha de milho e água) também tradicional desta zona de Itália.

Mercado de Peixe, Bérgamo, Itália.
Outro dos antigos mercados da cidade, além do Mercato delle Scarpe antes mencionado, é o Mercato del Pesce, agora bela esplanada para tomar um spritz e descansar as pernas.

Outra das curiosidade nas proximidades de Gombito é o Antico Lavatio, lavadouro coberto que recorda outros tempos em que as mulheres se juntavam em torno do tanque de água para lavar a roupa e fazer o seu próprio magazine passando em revista a vida dos outros.

Torre Gombito, Bérgamo, Itália.
De regresso à via Gombito encontramos a torre homónima, construída no século XII, sendo a mais alta da cidade, e desde a qual se tem uma panorâmica da cidade (Entrada gratuita).


Piazza Vechhia

Paços do Concelho na praca velha de Bérgamo, Italia.

É a sala de estar da Cittá Alta, onde se cruzam os locais e turistas, num cenário de monumentos góticos e neoclássicos. O edifício central da praça é o Palazzo della Ragione (sec. XII), considerado o mais antigo paços do concelho italiano, um curioso edifício sobrelevado sobre em pátio aberto onde se encontra um calendário solar (sec. XVIII). Ao seu lado a Torre Cívica ou Campanone assim chamada por albergar o maior sino da Lombardia, que alertava para o fecho das portas da cidade, tradição que se mantém atualmente tocando o sino 100 vezes às 22H00 a diário. O campanone está incluído dentro do Palazzo del Podestá (sec. XII), atual museu onde se conservam frescos de Bramante, e cuja antiga escadaria de acesso é outra das marcas desta praça.

Palacio Novo, atual biblioteca, Citta Alta, Bergamo.
No centro da praça a fonte Contarini (sec. XVIII), composta por um tanque central rodeado de leões e serpentes e duas esfinges que enfrentam a um lado o Palazzo della Ragione e a outra o Palazzo Nuovo (sec. XVII/XX), edificado para substituir o antigo paços do concelho mas que terminou destinado como biblioteca.

Piazza Duomo

Palácio dos Paços do Concelho e Catedral (Duomo) de Bérgamo, Itália.
Escondida detrás do Palazzo della Regione encontra-se o centro religioso de Bérgamo, a Piazza Duomo, ao redor da qual se situam os principais templos do centro histórico. Mais à direita situa-se o Battistero, ali colocado no século XIX, reaproveitando a peças do original que havia sido construído em 1340 no interior da basílica de Sta. Maria Maior e desmantelado no sec. XVII.

Igreja Sta. Maria Maior e Capela Colleoni, Bérgamo, Itália.
Rodeada por um cerca metálica onde luzem vários escudos familiares dos Colleoni, que todos tocam na esperança de regressar a Bérgamo, encontra-se a Capella Colleoni (sec. XV), ex-líbris de Bérgamo, e uma obra de arte do renascimento. O enxaquetado dos mármores na fachada onde se rasga a rosácea, que se centra entre os bustos de Trajano e Julio César, são alguns dos elementos que definem o gosto e empenho que o mercenário Bartolomeo Colleoni pretendeu eternizar-se na sua terra natal. É ele quem num cavalo preside a sua capela funerária, construída perante a oposição do pároco de Sta. Maria Maior, pelo que foram os seus soldados que derrubaram a sacristia da basílica para terem espaço para erguer o panteão deste mercenário que lutou pela República de Veneza.

Interior da igreja Sta. Maria Maior, Bérgamo, Itália.
Vizinha, e abraçando a capela Colleoni, encontra-se a Basilica di Santa Maria Maggiore, trata-se de um templo românico ao estilo lombardo, que ainda podemos identificar se olharmos exteriormente a abside. Contudo chama a atenção o nártex que protege a porta lateral sul, suportada por dois leões vermelhos e sobre os quais se levantam dois pisos com estátuas de santos, centrados pela de S. Alexandre de Bérgamo, na sua montada. No lado norte existe outra porta com leões brancos. O interior, em planta de cruz grega, deslumbra pela decoração barroca presente em quase todo o espaço. Destaque para os frescos góticos, tapeçaria florentina e flamenga, o confessionário barroco de Andra Fantoni, o túmulo do Donizetti (compositor natural de Bérgamo) e o coro do presbitério decorado com incrustações de madeira executados por mestres marceneiros sob desenhos de Lotto.

Finalmente à esquerda da praça o Duomo que dá nome à praça. Sob a invocação do santo padroeiro local, Santo Alexandro, ainda que originalmente fosse dedicada a S. Vicente, assumindo o novo nome quando se transfere para aqui o corpo do santo, localizado numa urna de prata no altar-mor. Ainda que os trabalhos arqueológico documente que aqui existiu um templo paleocristão (sec. V) a atual catedral é fruto de múltiplas alterações, cujo interior e fachada datam do sec. XIX. Curiosas as relíquías do papa S. João XXIII, natural duma aldeia próxima e que exerceu como diretor do Seminário de Bérgamo, onde destaca a sua tiara papal.

3. Stracciatella

Stracciatella na La Marianna, Bérgamo, Itália.

Depois de percorrer a via Bartolomeo Colleoni, e gastar os olhos nas montras cheias de apetecíveis tentações, atravessamos a muralha medieval da cidade entrando pela Porta della Campanela na Cittadella, que alberga vários museus, atravessando o pátio central e saindo junto a torre de Adalberto (sec. XIV), procurando a porta da muralha veneziana de Sant'Alessandro. É justo ao lado desta última porta, encostado à muralha quinhentista, que se situa a antiga padaria La Marianna, berço do sabor stracciatella dos gelados. Imperdível parar e saborear este gelado no local que o viu nascer em 1961. O negócio mantém-se na mesma família que perpetua a receita original misturando leite, gemas, açúcar, nata e gelatina para obter o creme onde misturam chocolate 58% cacau em pedaços tipo iceberg. Soberbo o vero stracciatella!


4. San Vigilo


Castelo de Sam Vigilo, Bérgamo, Itália.

Selfie em San Vigilo, Bérgamo.
Ultrapassada a porta da muralha veneziana (sec. XVI), imediatamente à direita está a estação inferior do funicular de San Vigilo, que permite aceder de forma cómoda ao Castelo de San Vigilo (sec. XV/XVI). O cimo deste morro teve desde o século VI assentamento humano pois a sua posição estratégica permite uma visão de 360º controlando a zona dos pré-Alpes e toda a planície muito além da vizinha Milão. San Vigilo trata-se de uma pequena aldeia, constituídas principalmente por restaurantes e cafetarias que circundam os restos do castelo, do cimo do qual se tem uma vista impressionante sobre a Cittá Alta.

5. Chiesa Di San Michele Al Pozzo Bianco

Frescos da capela-mor da igreja de S. Miguel, Bérgamo, Itália.

Pormenor, igreja S. Miguel, Bérgamo, Itália.

De regresso à Cittá Alta, vamos à descoberta de uma dos locais menos conhecidos e mais surpreendentes do centro histórico. Junto à porta de Sant'Agostino, numa elevação dentro da muralha veneziana, localiza-se a igreja de S. Miguel do Poço Branco, um verdadeiro tesouro pois apresenta uma coleção de frescos datados de várias épocas. A fundação da igreja parece remontar ao século XI, reformada posteriormente no XV e com última grande intervenção em 1915 quando a fachada assume o aspeto atual. Os frescos mais antigos datam de 1200, com claras influências bizantinas, havendo a clara convicção de que Lotto possa ter deixado a sua marca neste templo. O poço branco que denomina esta igreja ainda é visível a sua tampa na cripta do templo.

6. Citta Bassa

Praça Nova, Bérgamo, Itália.
Na zona baixa de Bérgamo, e mais concretamente na via estruturante que desce desde a porta de Sant'Agostino até à estação de comboios, podemos encontrar alguns edifícios notáveis como o Banco de Itália (sec. XX), a torre Conduti (sec. XX), Porta Nuova, (sec. XIX). Outro ponto interessante na Cittá Bassa são as ruas no Borgo de San Leonardo, sobretudo nas proximidades da Piazza Pontida, onde se reúnem os nativos para tomar o aperitivo, uma tradição em que por um preço popular de uma bebida podem consumir um buffet de petiscos.

Il Borgo ao anoitecer, Bérgamo, Itália.
Este são apenas 6 apontamentos imperdíveis para uma visita à bela cidade de Bérgamo, contudo como sempre há sempre algo novo a descobrir pelo que não deixes de perder-te e deixar-te levar pelo impulso de viver a experiência na tua visita.

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1 comentário:

  1. Flávia meirelles Pereira Ferriani4 de janeiro de 2020 às 09:40

    Muito boa sua fala sobre Bérgamo. gostei bastante. Obrigada pelas dicas e pelo seu modo conciso de falar.

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