Bruges, a cidade das pontes

Bruges vista dos canais, com o Campanário ao fundo, Bruges, Bélgica.

Eis outra proposta para aproveitar a tua viagem pela Bélgica. A cidade de Bruges está a aproximadamente 1h30 de comboio desde Bruxelas, e a localização da estação permite-te iniciar desde aí um percurso interessante na descoberta desta cidade classificada como Património Mundial desde o ano 2000.

Apelidada como "Veneza do Norte", são precisamente os canais que lhe dão o seu característico pitoresco. Mas não só. Todo o conjunto do seu centro histórico, maioritariamente construído com tijolo, é seguramente um dos locais que os amantes de viagens não podem descurar nos seus itinerários. O nome da cidade deriva do termo "burg" que em flamenco significa ponte, coisa que não falta nesta cidade!

Antigo Hospital de S. João, Bruges, Bélgica.

Comecemos o passeio pelo Hospital de S. João, este antigo hospital datado do sec. XI e que teve essa função até ao sec. XIX, acolhe hoje em dia o Museu dos Antigos Primitivos, nome pelo qual são conhecidos os pintores góticos flamencos, que desde estas paragens realizaram várias obras-primas da pintura universal. Além da pintura existem outras coleções de arte e objetos e ainda a curiosa farmácia do hospital.

Logo ao lado encontra-se a igreja de Nossa Senhora (Onze-Lieve-Vrouw-Ter-Potterie, em flamenco), também ele um edifício gótico em tijolo, cuja torre alcança os 122 metros de altura, sendo a segunda mais alta do mundo construída neste material. O que não se pode adivinhar desde fora é a riqueza que alberga este templo. O interior é totalmente barroco, com faustosa decoração e onde podemos apreciar uma escultura de Nossa Senhora com o Menino da autoria de Miguel Ângelo, pinturas de Caravaggio ou de Van-Dyck, coleções de tapeçarias e também de pratas. A não perder antes de seguir esta rota é a ponte de S. Bonifácio nas traseiras da igreja, considerado um dos mais belos e românticos recantos da cidade.

O próximo ponto de paragem é a catedral de São Salvador. Elevada a sede episcopal depois da independência da Bélgica, no sec. XIX, ela é bem mais antiga, havendo registos da sua existência desde o sec. X. Não pude entrar para ver o seu interior, assim que fica apenas a referência a que a sua torre foi construída no sec. XIX para dar mais dignidade à nova catedral da cidade.

Seguimos pela Steenstraad, principal rua comercial do centro histórico, e que nos leva diretamente até à Grote Markt. Esta é o coração da cidade, onde além dos nativos se misturam os turistas e toda a amálgama de serviços turísticos. O ideal para para sentir a praça é aproveitar algumas das muitas esplanadas e tomar uma cerveja belga e respirar o ambiente desta grande praça e contemplar os seus edifícios.

Uma cerveja em frente ao Campanário de Bruges, Bélgica.

De entre todos eles destaca o Campanário e o edifício do mercado. Trata-se de uma torre medieval de 1296, melhorada em 1487 com uma estrutura octogonal sobre a qual existia um pináculo de madeira destruído num incêndio em 1741. A sua função era a de albergar o mercado da cidade e nele tinham as suas oficinas artesãos e era ali também que se guardavam os arquivos e o tesouro da cidade. É ainda famoso o carrilhão desta torre que se pode ouvir a muitos quilómetros de distancia. Outro dos belos edifícios que podemos admirar na Grote Markt é o Palácio Provincial. Edificado no sec. XIX em estilo neogótico e usado atualmente como espaço cerimonial e expositivo.

Detalhe do Stadhuis de Bruges, Bélgica.

Logo ali ao lado situa-se a outra grande praça de Bruges, a praça Burg, onde se localizam os paços do concelho, o palácio de Franc de Bruges e a basílica do Santo Sangue. Ao entrar na praça os olhos fixam-se no Stadhuis (paços do concelho), considerado o mais antigo edifício municipal do Benelux. O seu estilo gótico flamejante, datado de 1376, está ricamente decorado com inúmeras estátuas, que ao longo dos séculos foram substituídas, datando as últimas do último quartel do sec. XX. A seu lado o Palácio do Franc de Bruges (antiga zona franca em redor da cidade) a partir do qual se administrou no sec. XVIII os seus ricos campos agrícolas e que hoje é o Arquivo histórico da cidade.

À espera do barco, Bruges, Bélgica.

Na outra esquina junto ao Stadhuis, situa-se a basílica do Santo Sangue, curiosa pela rica decoração dourada da sua fachada e em cujo interior se custódia a relíquia do sangue de Jesus Cristo derramado na cruz e que aqui terá chegado no sec. XII trazida pelo Conde de Flandres no regresso da 4ª cruzada, e em torno da qual se construi este templo. Na verdade trata-se de uma dupla igreja pois a sua parte inferior é um templo românico dedicado a S. Basílio, enquanto o superior foi remodelado no sec. XV, com obras de conservação no XIX, e em cuja capela lateral se expõe a santa relíquia.

Saímos da praça pelo túnel entre o Stadhuis e o palácio barroco para ir ao encontro dos canais, e partir num típico passeio de barco que me permite descobrir uma visão diferente de Bruges desde o interior dos seus canais. Merece bem a pena este mini cruzeiro!

Depois de recuperadas as forças e temperado o estômago com as típicas batatas fritas, seguimos à procura do mercado de velharias e antiguidades que ocorre nos fins de semana na esplanada de Djiver. Faltam-nos apenas dois locais: o beatário e o lago do Amor. Curiosa dupla final!

A entrada no Beatário de Bruges, englobado num conjunto de outros beatários (ou beguinages em francês) classificados como Património Mundial pela UNESCO em 1998, faz-se por uma ponte e uma porta setecentista que guardam um recinto em torno de uma ampla mata onde se recolhiam as mulheres laicas e viúvas, onde viviam em comunidade dedicando-se à oração, artesanato e acolhimento de doentes. É um local de tranquilidade onde a brancura das casas é o contraponto à restante cidade. A seu lado o Lago do Amor repleto de cisnes é outro dos imprescindíveis desta cidade das pontes.

O centro histórico de Bruges é seguramente um dos sítios que recomendo não deixes de conhecer!