Semana Santa em Castela-Mancha, 1/2

Villanueva de los Infantes, Espanha.
O objetivo desta viagem não era outra que procurar a nascente do rio Guadiana e aproveitar um fim-de-semana pela região espanhola de Castela-Mancha.

O ponto base, onde se encontrava o hotel, foi Valdepeñas, uma cidade vinícola, que mantém a tradição desde o período musulmano e que hoje tem nessa indústria um dos seus pilares económicos. Merece uma visita o museu dedicado ao vinho, instalada numa antiga adega de inicios do século XX. O espaço estrutura-se ao redor do pátio central da adega onde num espaço de recente criação estão os serviços educativos e centro de interpretação, enquanto nos espaços originais se dispõe a exposição com destaque para a sala das talhas de barro para armazenar o vinho e a cave de maduração.

Selfie com D. Quixote.
Após a reconquista cristã estas terras pertenceram à Ordem de Calatrava, que fundou a igreja da Assunção, na hoje praça de Espanha, e que foi posteriormente transformada ao longo dos séculos. No sec. XVI o rei Filipe II de Espanha vende-a a Alvaro de Bazan, Marquês de Santa Cruz, promovendo a produção do vinho que abastecia a corte real. Talvez o maior feito histórico desta localidade tenha sido o levantamento de toda a população contra os franceses em 1808, destacando-se a figura da Galana, burguesa local que liderou a vitória contra as tropas napoleónicas.

A nível patrimonial destaca-se a igreja da Assunção, matriz local, tardo-gótica, patrocinada pelo Marquês de Santa Cruz e atribuída a Juan de Baeza, e construída sobre uma anterior, incluida na fortaleza da Ordem de Calatrava. Destaque para o curioso interior de duas naves de altas abobadas de cruzaria de ogivas. A nave de S. Lourenço é posterior à nave central que é coroada por um retábulo renascentista, imitação do original destruído durante a Guerra Civil espanhola. A igreja abre-se à praça por um belo portal, Puerta del Sol, de estilo isabelino.

A caminho das lagoas de Ruidera, aproveito para conhecer Villanueva de los Infantes, localidade de menos de 6.000 habitantes, fundada a 10 de fevereiro de 1421 por D. Henrique, infante de Aragão e mestre da Ordem de Santiago, configurando-se como pequena corte do infante e conseguindo que esta fosse a capital da comarca nos séculos futuros. Toda a vila está declarada como conjunto histórico artístico em Espanha, e merecidamente, digo eu. São muitas as casas senhoriais que se encontram nas ruas que ligam as várias praças da vila, com destaque para a Casa-Quartel da Ordem de Santiago, o Palácio de Rebuelta ou o Palácio de los Fontes entre muitos outros.

Ainda a nível de património civil existe a Alhóndica, especie de celeiro comum, datado do sec. XVI e que hoje acolhe a biblioteca local, e que serviu de prisão durante vários séculos. O património religioso também é numeroso, Convento das Franciscanas (sec. XVI), S. Domingos (sec. XVII), Casa e Prisão da Inquisição (sec. XVI), Convento da Encarnação (sec. XVI), Conventos dos Trinitários (sec. XVII) e a Igreja Matriz de Sto. André.

Esta igreja localiza-se na Plaza Mayor, um conjunto harmonioso de casas renascentistas, onde destaca o portal maneirista com a imagem do santo patrono e o escudo real dos Austrias. A sua construção inicia-se em 1498 e termina já no século XVII. O interior abobadado com ogivas apresenta importante decoração de várias épocas. O pulpito é uma peça de soberba fábrica do plateresco (estilo de transição entre o gótico e o renascimento) decorada com esculturas de caráter mitológico. Ainda no interior a capela funerária da família Bustos, com abobada de estrela e decoração renascentista. Nesta capela encontram-se os restos do escritor Francisco de Quevedo, mestre das letras espanholas do século XVII.

Além de ter sido o local de morte de Quevedo, esta vila está ligada à literatura clássica espanhola, pois a sua obra maior, o livro de Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha, tem como cenário de arranque das aventuras deste cavaleiro andante "um lugar da Mancha", que os historiadores identificam como sendo Villanueva de los Infantes. Na praça existe uma escultura de bronze representando D. Quixote e Sancho Pança, ideal para tirar uma fotografia montando o seu cavalo.

É tempo de descanso e relax amanhã rumo à nascente do rio Guadiana!

Podes seguir lendo sobre este fim-de-semana aqui.

Plaza Espanha, Valdepeñas, Espanha.

Igreja de N. Sra. Assunção, Valdepeñas, Espanha.

Pátio do Museu do Vinho de Valdepeñas, Espanha.

Pulpito e Capela-Mor da Igreja Sto. André, Villanueva de los Infantes, Espanha.

Sem comentários

Com tecnologia do Blogger.