O Jardim da Muralha

Jardim das Laranjeiras, Elvas.
Ao atravessar o túnel da Poterna de S. Francisco, recordo-me de encontrar a olaia florida de rosa e o cheiro a primavera daqueles dias de inverno em que o sol nos deixava passear pelo Jardim das Laranjeiras.

Este pomar era a solução para os passeios dos domingos curtos de inverno, em que não se arriscava ir mais além das muralhas.

Aquele era um espaço ideal para sair em pequenas correrias, jogar ao "esconde esconde" e ser o camisola amarela de um tour ciclista de triciclos! Aquele espaço era um verdadeiro parque de diversões. A nogueira gigante, o fim do jardim impenetrável, a máscara do fontanário, os labirintos imaginários em redor das sebes além viaduto, os lagos com os seus peixes laranjas...

Para quem conheceu este espaço há uns 30 anos atrás, estas imagens trazem certamente memórias agradecidas que hoje aqui partilho.

Passados os anos este jardim começou a ser um sitio sombrio e pouco convidativo. Durante anos esqueceu-se o agradável da sua sombra, e apoderaram-se dele os males da sociedade, que à época começava a deixar em Elvas marcas de drogas e prostituição. O máximo que podíamos fazer era saltar o fosso, quando vínhamos do Ciclo, para roubar alguma laranja.

Em 2009 o Município elvense resolveu recuperar este espaço da Fortificação, pois ele representava o único espaço publico de fruição do fosso, o espaço de encontro dos elvenses com a sua muralha. Foram recuperados canais de rega, limpo de sebes, recuperadas paredes e bancos de alvenaria e criados novos espaços para atividades, como o jardim de ervas aromáticas, devolvendo o jardim à população do centro histórico.

Hoje é novamente um espaço aberto a todos, onde se poderiam ver as correrias dos pequenos elvenses, que ainda residem heroicamente no centro histórico. Confesso que sentimentalmente estou unido a este jardim e que me gostaria vê-lo mais cuidado, se possível, com uns sanitários de apoio a turistas que não sejam a vergonha dos elvenses, que mais atividades de associações ali se desenvolvam, quem sabe até a criação de algum tipo de pequena cafetaria que aproveite os espaços de apoio ali existente e permita novas experiências empresariais e inovadoras atividades no velhinho espaço dos fossos de laranjeiras plantadas que nos habituamos a chamar de jardim.

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