Évora, o possível em 1 dia.

Templo Romano e Igreja S. João Evangelista, Évora.
Hoje proponho-te passear por Évora, umas das 4 cidades de minha preferência em Portugal.

Para começar confesso que ali vivi uma breve época da minha vida e que é um território que conheço bem pois ali trabalho como guia intérprete desde há 15 anos. Conhece-la num dia de passeio, com tempo para absorver a atmosfera e interiorizar os sítios não será fácil, mas vou tentar criar um roteiro.

Vamos começar pela praça do Geraldo, coração desta cidade Património Mundial, por ali passa a vida de Évora. O ideal é sentar-se numa esplanada tomar um café e olha-la. Sentado ao lado da Fonte Henriquina, bela peça de mármore branco do Alentejo, erguida pelo cardeal rei D. Henrique. O século XVI deixou uma forte marca em Évora, pois além do cardeal-rei também o seu irmão, o rei D. João III, transformou a sua cidade amada. A fronteira igreja renascentista de S. Antão também é fruto do esforço e vontades destes irmãos. É uma bela igreja salão, construída sobre uma anterior ermita e no local onde existia um arco romano demolido por ordem do cardeal-rei. No interior da igreja merece destaque o frontal com o baixo relevo representando o apostolado (sec. XIV). Antes de sair da praça recordemos que este local foi um antigo foro romano e que aqui se realizavam os atos de fé da Inquisição eborense.

Zimborio da Catedral, Évora 
Da praça desço pela Judiaria de Évora, caminho pela rua dos Mercadores, travessa Torta, rua do Raimundo, espreito a placa á entrada da travessa da Tamara, sigo pela travessa dos Frades Grilo e desço a Bernardo de Matos em direção de novo ao Raimundo para entrar no Jardim Público.

Este percurso pelo jardim eborense é ideal para ver parte da muralha medieval e seiscentista que ao longo dos séculos defenderam a urbe. Chego assim ao Palácio D. Manuel, este que foi o maior edifício da cidade. Apesar de ter o nome do rei Venturoso, a sua construção deve-se ao rei D. Afonso V, que escolheu a antiga cerca do mosteiro de S. Francisco para criar um palácio em Évora. D. João II, D. Manuel I e D. João III, melhoraram-no. Hoje desse palácio resta apenas a Galeria das Damas manuelina, que sofreu muitas alterações desde a sua génesis.

Ali ao lado a Praça 1º de Maio e no centro o Mercado. Vale a pena entrar. Eu entrei comprei um pão alentejano e um queijo de Évora para a merenda. Agora segue-se o monumento mais visitado do Alentejo, a Capela dos Ossos. Recentemente foi completamente renovado todo o complexo museológico da Igreja de S. Francisco, e em breve abrirá ao público o piso superior das celas dos frades franciscanos transformado em museu de arte sacra e exposição de presépios. (Entrada 3,00€).

Sigo o meu passeio por Évora em direção à igreja da Graça. Esta belissima igreja renascentista foi desejo expresso de D. João III com a pretensão de ser o seu mausuleo. Na cidade esta igreja é conhecida como "Os Meninos da Graça" pois rematam o frontão quatro atlantes represenando os quatro continentes conhecidos à época. Na sua traça participou o genial Nicolau de Chanterene, que colaborou em vários trabalhos na cidade. É um exemplo do renascimento italiano na cidade-museu. Passamos por debaixo dos arco góticos da travessa da Caraça e seguimos à direita em direção às Portas de Moura. No largo da Misericórdia tem-se uma vista espetacular sobre as torres da Sé entre o casario e as ramas dos jacarandás. Passo pelo portal rococó e entro na Misericórdia. É talvez o melhor exemplo do barroco em Évora, nave com paineis de azulejos representando as obras da Misericórdia, da autoria de António de Oliveira Bernardes. Sobre eles um conjunto de pinturas da mesma temática num belo enquadramento de talhas douradas. Também imponente é o retábulo barroco da capela mor coroado pela pintura de N. Srª. da Misericórdia. Curioso também o Mesário dos membros da Confraria da Misericórdia, na nave à direita.

Já no Largo das Portas de Moura, e antes de descer ao Jardim do Bacalhau para fazer a merenda, não deixo de observar a chamada janela de Garcia de Resende, o cruzeiro da capela de S. Manços, o chafariz de Diogo de Torralva e a varanda mudéjar-manuelina da casa Cordovil.

Recompostas as forças toca rumar à Universidade. Gosto de entrar pela porta do Patio das Escolas, enfrentando a fachada da Sala de Atos. Todo este conjunto do Colégio do Espirito Santo, foi desejo expresso de D. Henrique, que na sequência da fundação por D. Manuel dos Estudos Gerais, consegue em 1559 a sua instituição. Aconselho-te a procurar uma sala sem aulas e assim observar o conjunto formado pela catedra em madeiras tropicais e os retábulos azulejares que identificam a "escola" que ali era ministradas. Cada sala de aula é facilmente identificável pela temática dos azulejos. Passando o patio dos noviços e o antigo refeitório, com o seu lavabo renascentista, subimos em direção ao piso das antigas selas dos jesuitas (hoje também salas de aulas) à procura do cruzeiro central. Nele encontramos os azulejos representando os 4 elementos, 4 doutores da igreja e 4 escudos heráldicos. (Entrada 3,00€).

Saiu do colégio pelo alpendre passando em frente à igreja do Espirito Santo e começo a subir à acrópole. Passada a capela de S. Miguel entro no complexo da Fundação Eugénio de Almeida. É um patio e Paço de S. Miguel de uma riqueza patrimonial impressionante. Não tenho tempo para visitá-lo assim que aproveito o patio para chegar ao Largo Mário Chicó, onde observo a torre medieval junto ao museu dos coches e à cabeceira da Sé. Passando debaixo do arco que une os edifícios do antigo Palácio Espiscopal (hoje o Museu de Évora) e a Biblioteca Pública, encontro o Templo Romano.

Estamos no cimo da acropóle eborense rodeados de inúmeros pontos de interesse. O próprio templo, o museu e a biblioteca, o convento dos Loios (pousada), a igreja de S. João Evangelista, o paço dos Condes de Cadaval e a Torre das 5 quinas, o jardim de Diana e palácio da inquisição.

Antes que feche dirijo-me à Sé para visitá-la, bem como o clautro e o terraço. É um belo exemplo de um gótico inicial. Por ventura está construída sobre o antigo teatro romano e a mesquita maior da Évora muçulmana. Destaue para o pórtico com a representação dos apostolos, a imagem de N. Srª. do Ó, o órgão maneirista e coro alto, a capela dos Morgados do Esporão e a capela mor barroca.  (Entrada 2,50€).

Subo de novo ao Largo do Conde de Vila Flor para junto ao Fórum Eugénio de Almeida entrar nas Casas Pintadas. Vulgarmente conhecida como a casa de Vasco da Gama, albergam um interessante conjunto de pinturas quinhentistas únicas no país. (Entrada 3,00€).

Para terminar o roteiro passo pela igreja de S. Tiago e desço até à Caixa de Água e na rua da Alcárcova de Cima para observar os restos de uma casa romana visível desde uma janelas e terminar na rua 5 de Outubro.

Não é tudo o que existe para visitar e conhecer em Évora mas é o possível fazer numa jornada nesta cidade Património Mundial, classificada em 1986, e à qual sempre volto.

Paço de S. Miguel, Évora.

Igreja da Misericórdia, Évora.

Pormenor de Évora

Praça do Geraldo, Évora.

Igreja e Meninos da Graça, Évora.

Arco Triunfal da Igreja S. Francisco, Évora.


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