Asilah, a portuguesa Arzila

Torre de Menagem, Asilah, Marrocos.
Depois de uns dias por Marrocos, entrar em Asilah é respirar de novo Portugal. Esta cidade costeira é uma verdadeira aula sobre fortificações pré-pirobalísticas. Na sua origem mais remota encontramos os fenícios no século II a.c. que aqui se estabeleceram, passando depois pelas mãos de cartagineses e romanos até à sua conquista pelos árabes em 712, tornando-se num porto essencial no comércio entre o Magreb e a Europa. A sua posição é fundamental para estabelecer o controlo da região e uma base para a conquista definitiva de Tânger, daí que em 1471 D. Afonso V opte pelo seu assalto, permanecendo no reino de Portugal até ao Desastre de Alcácer-Quibir em 1578. A cidade passa aí para administração espanhola, sendo perdida em 1691 a favor do Sultão de Fez, Mulay Ismail.

A presença portuguesa está bem presente em toda a Vila Nova, zona delimitada pelas muralhas hoje existentes, que corresponderiam a cerca de metade da antiga Medina rodeada por muralhas de taipa. Fora desta zona foram colocados os mouros, começando a adaptar a Vila Nova ao gosto lusitano, com a construção do Castelo e Torre de Menagem, reforçados depois por Diogo de Boitaca enquanto arquiteto régio de D. Manuel I e mestre de obras do Mosteiro dos Jerónimos lisboeta.

Costa de Asilah, Marrocos.
A muralha portuguesa, as portas, torres e baluarte cilíndricos reforçam-se sobretudo na frente marítima, aproveitando também a couraça muçulmana. Toda a estrutura da Vila Nova vai sofrer alterações substituindo-se o labirinto muçulmano das suas artérias por uma estrutura mais ocidental estruturando-se desde a Rua Direita, que corresponde hoje às ruas Mjima'a e Attijara

É uma cidade plana e de fácil visita. Entrando pela Bab Bhar (Porta do Mar) que faz o acesso desde o passeio marítimo e desde o estacionamento do porto, encontramos ao lado a Torre de Menagem, restaurada recentemente com o apoio da Fundação Calouste Gulbekian. Em conjunto com a Casa do Governador, hoje desaparecida, formavam o grande castelo português que simultaneamente tinha funções defensivas e de aparato. É uma obra de Boitaca, com uma bela janela por onde o governador podia observar o pátio de armas, matacães ornamentais, guaritas esquinada e coroada de merlões, mais decorativos que defensivos.

Seguindo à direita da torre encontramos edifícios da madraça construída durante o Protetorado Espanhol, caminhando junto à muralha que nos separa do Atlântico tendo à esquerda edifícios caiados a branco e rodapés azuis qual Alentejo, chega-se ao Palácio Raissouin. Este palácio de inspiração árabo-andaluz, foi construído por Moulay Ahmed Raïssouni em 1910 para sua residência. Este foi considerado um pirata pelos ocidentais e um salvador do colonialismo pelos locais, exercendo o poder na zona com bravura e atuando com as populações como chefe feudal. Infelizmente apenas é visitável quando acolhe eventos culturais.  Passando por debaixo do túnel e continuando reto, na esquina da cidadela fortificada encontra-se a curiosa couraça que avança sobre o mar. É o ponto ideal para fotos sobre a muralha lusa, tendo aos pés o cemitério islâmico de Sidi Ahmed El Mansur, conquistador da cidade no pós-Batalha de Alcácer-Quibir, com a sua cuba e sepulturas de guerrilheiros mujahidin decoradas com azulejos coloridos.

A cor está presente em muitos sítios desta cidade branca, que acolhe, desde 1978, o Festival das Artes, e durante o qual recentemente se cobriram algumas paredes com grafites de artistas locais e internacionais, que aportam certa alegria às brancas ruas e praças. O próximo destino é o souk, zona comercial dentro da Medina, ao qual chega-se através das ruas Sidi Tayeb, rua Sidi M´Barek com a mesquita homónima e a rua Al Kadi. Desde aqui, à esquerda, encontram-se as ruas comerciais do souk.

O ideal é sair pela curiosa Porta de Terra, Bab El Homar, protegida num baluarte, em cotovelo, e que exteriormente conserva, em lamentável estado de conservação um escudo português.

Fora de portas, e seguindo pela avenida Ibn Batuta, encontra-se várias esplanadas para um chá marroquino ou se é hora de refeição aproveitar as variedades de peixe fresco. Contornando a muralha à esquerda a intenção agora é entrar pela porta principal da medina, a Bab Al Kasaba, entrando na brancura da rua que conduz à praça Ibn Khaldun, encontram-se agora o Centro Cultural Hassan II e a Grande Mesquita.

Completa-se assim o circuito voltando aos pés da Torre de Menagem, e de onde se pode partir à descoberta dos artesãos, ourives, couros e telas mil.

Muralha e cemitério desde a couraça , Asilah, Marrocos.

Palácio Raissouin, Asilah, Marrocos.

Grafities em Asilah, Marrocos.

Bab El Homar (o escudo português está tapado pela publicidade), Asilah, Marrocos.

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