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Paços do Concelho, Elvas. |
A Batalha das Linhas de Elvas marca definitivamente a forte convicção de não ceder um milímetro da nossa independência frente às tentativas espanholas de prosseguir governando em Portugal. Com a vitória ao prolongado cerco à cidade, iniciado a 22 de outubro de 1658 por D. Luís de Haro, inicia-se definitivamente a afirmação de que Portugal seria de novo um importante ator na vida europeia dos séculos XVII e XVIII.
Todos os anos, nas cerimónias militares da praça da República, se descreve de forma sumária os acontecimentos que decorreram naquela manhã de 1659… As tropas auxiliares que chegam desde Estremoz e rompem as linhas que o inimigo erguera rodeando as muralhas elvenses… Entre o nevoeiro a cavalaria lusitana e espanhola enfrentam-se, enquanto desde os fortins efémeros do cerco as tropas espanholas disparam sobre os infantes lusos que aos poucos rompem a linha espanhola… Ao fim do dia, e com as encostas e campos que rodeiam Elvas manchadas de sangue, o comandante espanhol decide retirar e refugiar-se em Badajoz.
A parada militar traz-me sempre a recordação de quando era usual cruzar-se com militares em qualquer esquina das ruas do centro histórico. É uma tradição dos tempos em que a minha cidade era essencialmente uma terra castrense, com quartéis e guarnições militares espalhadas nos quatro cantos da fortaleza.
Vão longe os tempos em que existia em mim uma espécie de mistura de medo e exaltação ao tentar, entre os ferros das sacadas dos Paços do Concelho, perceber o que se passava no tabuleiro da praça. O porquê de estarem militares escondidos no pátio do edifício, ou porquê nesse dia feriado o meu pai tinha que trabalhar. São recordações de dias frios, alguns com nevoeiro, cortados por toques de corneta, que ainda que habituais na varanda da minha casa sobranceira ao quartel, não o eram em plena praça principal.
Nos últimos anos em contadas oportunidades pude assistir às cerimónias militares, mas é sempre com orgulho que entoo o hino nacional na praça da cidade que me viu nascer, na cidade que tenta resistir e reinventar-se na batalha diária de sobreviver à morte anunciada das pequenas cidades do interior do país. Elvas trava uma nova batalha nesta década do século XXI, tornar-se um polo de dinamismo no Alentejo, aproveitando a riqueza do seu património e a sua posição geográfica. Castelos na fronteira há muitos, mas posicionar-se como uma urbe patrimonial e de serviços abraçando os dois lados da raia é um objetivo que apenas Elvas pode conseguir. Gastar forças e energias em pequenas batalhas caseiras não me parece merecedor da memória dos heróis da Batalha das Linhas de Elvas!
Ahh... os tais soldados escondidos no pátio da câmara, aguardavam ordens para se incorporarem na formatura transportando o estandarte nacional!
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