Úbeda e Baeza num mar de oliveiras

Palácio dos Cobos, Úbeda.
Foi na FITUR, há uns anos, que me chamaram a atenção para Úbeda e Baeza, e para o seu conjunto monumental, e depois de me documentar passou a integrar a minha lista de desejos. Foi só nesta primavera que me decidi ir visitá-las. As duas localidades distam menos de 20 kms entre ambas entre um mar de olivais, na privincia de Jaén, na Andaluzia, Espanha. Optei por ficar alojado em Baeza, mas ambas dispõe de uma oferta turística variada.

Úbeda e Baeza forma classificadas conjuntamente em 2003 como Património Cultural da Humanidade, devido ao seu património renascentista. Úbeda, que chegou a ser sede do Califato com Abd-al-Rahman III, é sobretudo no período do Imperador Carlos V que ganha a importância e monumentalidade que hoje ainda ostenta, graças à fertilidade das terras que a rodeiam. A sua renovação de cidadela medieval a cidade renascentista, deve-se ao fato de ser a terra natal do secretário de Carlos V, Francisco de los Cobos, que acumulará poder e fortuna, e a transformará numa pequena corte à imagem das cidades europeias por onde viaja ao serviço do rei-imperador.

O coração renascentista de Úbeda articula-se em redor da Praça Vázquez de Molina, que é construída seguindo modelos urbanísticos e estéticos em moda na Europa quinhentista. Ali se encontra o Palácio das Cadenas, hoje Ayuntamiento, e em redor do qual de encontram outros belos exemplares do renascimento. A entrada ao edifício faz-se atualmente pela Praça do Ayuntamiento nas traseiras do palácio. Merce a pena entrar e ver o pátio. Mas antes de sair da praça merece a pena olhá-la em 360º. Em frente ao palácio, separado por um pequeno jardim e estátuas, situa-se a Real Basílica de Santa Maria dos Reais Alcazares. De estilo gótico e remodelado até quase aos dias de hoje, apresenta uma fachada de duplo campanário entre os quais um baixo relevo da adoração dos pastores coroa a porta principal. Infelizmente não pude entrar a visita-la. Completa a praça o antigo celeiro (sec. XVII), o Palácio do Marquês de Mancera (sec. XVI), o Aljube (hoje Palácio da Justiça) e o Palácio do Deão, obra também de Vandelvira e hoje transformado em Parador.

Antigo Palácio do Deão, Úbeda.
Na esquina nascente da praça situa-se a Sacra Capela do Salvador, da traça de Diego de Siloé, ainda que executada por Vandelvira, ao qual se deve a porta lateral (hoje em uso turístico). A fachada principal é de uma elegância renascentista misturando na sua decoração os brasões familiares e a mitologia em torno da Transfiguração de Jesus Cristo.

A mesma escena bíblica repete-se no retábulo, embora este seja uma replica do original, destruído durante a Guerra Civil espanhola. Pessoalmente chamou-me a atenção a porta de esquina que dá acesso à sacristia.

Ainda dentro do conjunto intramuros, correspondendo ao alcácer medieval, podemos encontrar uma grande diversidade de palácios e igrejas, com destaque para a igreja de S. Paulo, o Palácio dos Cobos, com a sua característica loggia ou o hotel Palacio del Marqués de la Rambla, com mais um soberbo pátio.

Não deixe a zona intra muros sem passar pela Olaria do Tito, na praça do Ayuntamiento, e perder-se entre as muitas peças, diversas técnicas e coloridos das peças deste artesão. Para recuperar forças tomamos um refresco na praça da Andalucia, tendo como testemunhas a torre medieval da muralha e a igreja do convento da Trindade, antes de seguir pela rua comercial em direção ao antigo Hospital de Santiago, e hoje centro cultural.

É um enorme edifício da traça de Vandelvira, patrocinado por D. Diego de los Cobos, bispo de Jaén e natural desta localidade, com a finalidade de ser um hospital de necessitados, palácio e igreja panteão familiar. Afortunadamente aquando da minha visita na antiga igreja, hoje adaptada a teatro, estava a decorrer um ensaio de um coral infantil. Visitar esta mole renascentista embalado pelas vozes dos pequenos cantores foi uma experiência única!. Merece destaque o teto da escadaria monumental decorado com pinturas atribuídas a Pedro de Raxis e Gabriel Rosales.

O segundo dia serviu para conhecer Baeza, também esta com uma importante história, mas que ao igual que a sua irmã, Úbeda, é com o renascimento que ganha notoriedade. É com a instalação da Universidade, em 1538, que está localidade ganha projeção, conjuntamente com o fato de ser sede episcopal.

Passeio e Praça de Espanha, Baeza
É precisamente no alto da cidade, intramuros, que se encontra a Catedral da Natividade Santa Maria, obra maioritariamente renascentista na qual se apresenta um baixo relevo representando a sua invocação sobre a porta principal do templo fronteiro à praça homonima. Destaque ainda para a torre, construída aproveitando o minarete da  anterior mesquita. No centro da praça encontramos uma fonte renascentista, de esbelto traço. Sentar-se nela e apreciar todo o conjunto que a rodeia (antigas casas consistoriais, antigo seminário), enquanto escuto a água cair é um momento mágico. Um pouco mais abaixo encontra-se a fachada do Palácio Jabalquino, com as suas palmeiras de pedra, a romanica igreja de Sta. Cruz e a antiga universidade renascentista e ainda mais abaixo, passando a Porta de Jaén, está a Praça do Pópulo ou dos Leones. Este é outro conjunto renascentista que inclui o Arco de Villalar, celebrando a vitória do Imperador Carlos V contra os seus opositores castelhanos, a Casa do Pópulo, o Antigo Matadouro (hoje Palácio de Justiça) e ao centro outra bela obra pública, a Fonte dos Leones, cujas esculturas dos felinos têm sido identificadas como pertencentes ao antigo alcácer muçulmano.

Uns passos mais além entramos no Passeio e Praça de España e eis que saidos duma ruela entram um par de miúdos carregando uma especie de mini andor! Super impressionado como desde pequenos promovem o culto religioso às crinças atravez do jogo de fazer de conta que é Semana Santa!

Fora da zona intramuros e subindo a rua S. Francisco encontramos uma serie de palácios e igrejas renascentistas impressionantes. Delas destaco o Palácio do Corregedor e prisão (hoje Ayuntamiento) um magnifico e esbelto edificio do sec. XVI e as ruínas da Capela dos Benavides, que foi capela mor do Convento franciscano destruída pelas invasões francesas. Esta obra é da autoria de André de Vandelvira, considerada a sua obra maior, e apesar de destruída e com uma intervenção da decada de 80 do século passado, transmite a grandeza, leveza e beleza desta obra.

Esta foi uma das viagens que mais me impressionou ultimamente, pois não se pode esperar encontrar esta quantidade e qualidade de renascimento na Península e muito menos na barroca Andaluzia. Recomendo vivamente!
Fonte de Santa Maria, Baeza, Espanha.




Vista sobre os olivais desde o passeio panorâmico de Baeza, Espanha.














Escadaria monumental do Antigo Hospital de Santiago, Úbeda, Espanha.
Sacra Capela do Salvador, Úbeda, Espanha.

Detalhe da fachada da Sacra Capela do Salvador, Úbeda, Espanha.

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