A Graça do Forte

Porta do Dragão, Forte da Graça, Elvas.
Em qualquer tesouro há sempre uma jóia que brilha mais que as demais. Em Elvas essa jóia é o Forte da Graça, ou Forte de Lippe, ou Forte de N. Srª. da Graça.

Em breve terminarão os trabalhos de conservação e restauro que se iniciaram no outono do ano passado, os quais tinham previsto um investimento global na ordem dos 7,5 milhões de euros, destinados à recuperação das estruturas da fortificação de forma a permitir adapta-las ao turismo e usofruto das populações. 

Será a oportunidade para descobrir, ou rever, esta obra-prima da arquitetura castrense mundial, integrada no conjunto classificado como património mundial.

Grande é a expetativa que rodeia esta obra. Aos poucos vamos vendo como se vai alterando a fisionomia da estrutura. Mais limpa, novas coberturas, novas cores. Espero ansioso pelo dia que possa tranquilamente voltar a passear por dentro das muralhas deste forte agora recuperado.

Não quero contudo esquecer a imagem de degradação em que se encontrava, quero mantê-la viva de forma a valorizar, com base nelas, aquilo que de renovado, limpo ou recuperado possamos encontrar num forte aberto a todos.

Quero sentir-me qual rei, em visita oficial ao forte, entrando pomposamente pela Porta do Dragão e subindo às dependências da Casa do Governador, e simultaneamente prisioneiro do mesmo, entrando nas casernas e selas. Talvez seja esta aceção que mais permaneça na mente dos portugueses, pois este espaço é conhecido por uma parte da população nacional apenas como o "Forte d'Elvas", significando castigo militar e politico.

É esta função de depósito disciplina, que lhe foi destinada um século depois de terminada a sua construção, alterando-lhe o uso que se mantêm até 1986. Será certamente esta característica que mais se recorda e mais terá que ser valorizada na sua musealização. Os valores monumentais, a nível de engenharia e arquitetura, serão aqueles que mais destaque terão certamente, mas a rudeza da memória do espaço prisional estará seguramente no contexto expositivo deste renovado forte.

Muitos anónimos contribuíram para levantar o forte, estimando-se em cerca de 32.000 homens, sob o comando e desenho do Conde de Lippe, Wilhelm von Schaumburg-Lippe, Comandante Geral das Tropas Portuguesas, auxiliado pelos engenheiros Étienne e Valleré. São muitas as memórias que este espaço pode ressuscitar e ajudar a preservar. História dos grandes e dos pequenos homens que deixaram o seu esforço para deixar-nos este forte.

Hoje que olhando para o alto do monte já não vemos as gruas que nos acompanharam ao longo do último ano, e com data de inauguração das obras anunciada, basta aguardar para subir ao forte, seguro que agradecendo aos homens e mulheres de hoje a democratização de um espaço que foi prisão e dor para muitos.
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