O Meu Tesouro

Aqueduto da Amoreira, Elvas.
Este é o meu tesouro, a minha cidade, Elvas.

Confesso que há muito me apaixonei por esta cidade. Talvez o fato de crescer com uma varanda sobre a zona baixa do centro histórico, tendo em frente o tímpano do Mosteiro de N. Srª. dos Mártires, e mais tarde com um panorama sobre o Castelo, as Muralhas e o Forte da Graça. Foram essas vista com que diariamente convivi na minha infância e adolescência, que seguramente deram lugar a um olhar mais atento, carinhoso e deslumbrado sobre as pedras, retábulos e azulejos duma urbe que em 2012 foi reconhecida como Património Mundial pela UNESCO. Esse foi seguramente um dos dias mais emotivos da minha vida pessoal e profissional.

Esta nova aventura de pensar, descobrir, rever e escrever Elvas vai ser também um exercício de memória, revisitando recordações de lugares e pessoas que marcaram a minha história. Vou propor-vos olhares sobre sítios da vida comunitária desta Elvas que me viu crescer. Creio que seguramente iremos juntos tecer uma rede de recordações comuns, pois esses espaços comunitários servem de cenário às nossas vidas.

Mas estas linhas, que quero sejam sobre o passado, vão levar-me também a olhar para o presente, imaginando o porvir que queremos viver em Elvas. Não creio que ontem fosse melhor que hoje, pois creio que somos capazes de construir um amanhã mais digno que o dia que vivemos hoje.

Estamos num tempo de reinícios, terminado que está mais um arraial elvense, em que se misturam sentimentos religiosos, pseudos e mundanos. Se no antigamente se aproveitava o S. Mateus para comprar mantas e agasalhos para os dias frios que iam chegando, hoje esta feira, romaria, arraial, festa, exposição ou o que quer que seja, é algo completamente diferente daquilo que foi, e não é o que poderá ser. Cabe-nos descobrir o que queremos que seja.

Há um espaço que julgo a todos os elvenses nos diz muito, mais não seja, aos da minha geração e anteriores, que ali nos reuníamos para ver os ranchos e artistas vários, num momento único de animação na cidade, que apenas tinha na feira os seus dias festivos. O recinto da Fé é fruto do ex-voto de uma rica senhora elvense, Anna Julia de Lima e Silva, à época proprietária da Quinta das Águias. Foi como agradecimento pelas melhoras de seu marido, que em 1881 mandou ali colocar esta fonte coroada pela imagem da Fé cristã. Ali me refresquei muitas vezes, foi durante os últimos anos de S. Mateus um local de repouso e tranquilidade no mar de gentes e ruídos da feira. Este ano tentou regressar à festa, maquilhado de espaço popular, mas creio que não chegou lá.

Todo o recinto do parque da Piedade é em si um monumento à amizade, ao reencontro e à saudade, pois é ali que se sente o pulsar desta Elvas que amo e que considero como o meu tesouro público.

Findo o S. Mateus, reiniciamos tudo nas nossas vidas e será também aqui que a miúdo partilharei peças sobre arte, história e património deste meu tesouro. Será um prazer compartilha-lo.


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