Alandroal, Juromenha e Terena, três castelos na raia

Castelo de Alandroal.
Quando promocionam este concelho raiano, banhado pelas águas do rio Guadiana, usam o lema "um concelho, três castelos" que serve perfeitamente para definir o Alandroal.

Na sede de concelho, Alandroal, o castelo dionisíano, marca a silhueta da vila. Trata-se de um castelo construído com lajes de xisto reforçado com granito, com a curiosidade de sabermos quem foi o seu "arquiteto", dado o mesmo ter o nome na inscrição da pedra fundacional do castelo na porta Legal, onde se pode ler: "Mouro Galvo me fez". No interior, agora isento de construções, tinha uma única rua que comunicava com a outra porta, a do Arrabalde, onde se pode observar a vara dos mercadores, padrão para as medidas em uso nesta localidade medieval.

Janela mudéjar no castelo, Alandroal.
Igreja da Misericórdia, Alandroal.
Em frente desta porta a igreja da Misericórdia com um belo portal setecentista em mármore, e um pouco mais abaixo a fonte homónima.

De regresso ao interior da fortificação, e no centro da praça de armas, a igreja de N. Sra. da Conceição, de fábrica manuelina e obras barrocas, adossada à torre de menagem do castelo. Ainda no interior do castelo, e atravessando uma porta interior acede-se ao castelejo, onde se situa a janela mudéjar, outro testamento do Mouro Galvo. Saindo pela porta do castelejo encontra-se o edifício da antiga prisão.

Jogo do alquerque na Fonte das Seis Bicas, Alandroal.
Em frente encontra-se a Fonte das Seis Bicas, barroca e de mármore, que deve o seu nome às seis bicas em forma de leão e que se denominam de bica das Feiticeiras, bica de Santo António, bica dos Namorados, bica dos Reis, bica de São Pedro e bica de São João. Esculpidos nos muros laterais encontram-se vários jogos das covinhas ou do alquerque.

A Fortaleza de Juromenha, debruçada sobre o rio Guadiana, é uma ruína histórica que envergonha o nosso país, mas ao igual que uma casa fantasma tem uma área decadente e suja que não oculta contudo a monumentalidade do seu passado. A sua posição estratégica foi determinante para o reino de Badajoz escolher esta localização para ser a defesa sul da capital almóada. Foi essa a razão pela qual D. Afonso Henriques e Geraldo sem Pavor a terem conquistado em 1167, ingressando definitivamente no reino luso em 1242. Ainda se podem observar restos da sua muralha almóada de taipa. Resiste também a torre de menagem dionisíaca, de cujo alto se observam as terras além-guadiana e o extenso lençol de água da lagoa de Alqueva.

Rio Guadiana visto desde Juromenha, Alandroal.
Com a restauração da independência o rei D. João IV vai encarregar a fortificação da fronteira obedecendo às novas premissas da guerra, erguendo fortalezas abaluartadas que substituíram as muralhas medievais. No interior da fortaleza lutam por manter-se em pé a Matriz, dedicada à Virgem do Loreto, a Misericórdia, os Paços do Concelho, a cadeia e a cisterna, além de algumas residências meio caídas.

Interior da fortaleza de Juromenha, Alandroal.
Visitá-la é manter viva a memória daqueles que ali residiram e lutaram pela nossa independência, e que atualmente não ultrapassam os 120 habitantes. Se a tua visita coincidir com a hora de almoço não deixes de provar uma escalda ou outra confeção feita com peixe do rio.

Terenavista desde o castelo, Alandroal
Tempo de rumar até outro castelo alandroalense, Terena. Ao cruzar a ribeira de Lucifecit, afluente do rio Guadiana, entramos em Terena e no bairro do Arrabalde onde vivem maioritariamente a pouca população da vila. Contudo há que subir até à igreja de S. Pedro (sec. XVI) e entrar na rua Direita, uma bela artéria cheia (ainda) de flores e de antigas residências e novos alojamentos locais que permitem a conservação das habitações. A meio da rua a torre do relógio, o pelourinho (sec. XVI), a Misericórdia (sec. XVI) e os antigos Paços do Concelho.

Rua Direita, Alandroal.

Rua Direita, Alandroal.
No final da rua atinge-se o castelo medieval, atribuído a D. Dinis, com bela decoração nos capitéis da porta de entrada e que permite o acesso ao adarve de donde se vislumbra a vila, a barragem de Lucifecit e o santuário da Boa Nova. A torre de menagem manuelina conta com janelas com seteiras. Do lado oposto da praça de armas situa-se a porta (entaipada) do Campo que exteriormente é protegida por duas belas torres circulares.

Santuário de N. Sra. Boa Nova, Terena, Alandroal.
A poucos quilómetros da vila encontra-se o santuário de N. Sra. da Boa Nova, uma igreja-fortaleza do século XIV, cuja tradição associa à rainha consorte de Castela, D. Maria, filha de D. Afonso IV de Portugal (cujo escudos adornam o exterior do templo), que teria vindo solicitar auxílio para seu marido que se encontrava na Batalha do Salado, tendo recebido a boa nova da concordância de seu pai em participar no conflito. É um templo em cruz latina, coberto de frescos do sec. XIX no corpo da igreja e as da capela-mor são do XVI ao igual do retábulo. na capela-mor. Também na capela-mor aras votivas dedicadas a Endovélico, deus pré-romano, cujo templo existia no concelho no cimo dum monte de onde saiu o rico espólio que se encontra no museu Nacional de Arqueologia.

Celebração do solisticio pelos neopagãos de Wicca Celtibérica no Alto de S. Miguel da Mina, Alandroal | Foto José Figueira
Outro dos locais ligados ao deus Endovélico é o Alto de S. Miguel da Mota, onde se situava o templo dedicado à divindade que os romanos agregaram às suas deidades e que posteriormente se cristianizou culto ao Arcanjo S. Miguel. Atualmente neste local apenas se encontra um marco geodésico, onde se reúnem os crentes wicca e a população em geral para celebrar o solistício, englobado num programa mais alargado de festejos denominado Terras de Endovélico organizado pelo município do Alandroal.

Santuário da Rocha da Mina, Alandroal.

Santuário Rocha da Mina, Alandroal.


Para finalizar o périplo pelos locais de Endovélico há que dirigir-se ao santuário da Rocha da Mina. Existe um percurso pedestre que passa por estes locais que se pode obter informações no turismo do Alandroal. Optamos por ir de automóvel e assim aproximarmo-nos também do santuário mariano da Fonte Santa. Este santuário datado do sec. I a.C. era composto por um povoado amuralhado no cimo do qual se situa o santuário do oráculo, composto por um altar, ao qual se acede por um grupo de 4 degraus talhados na rocha, e um poço, também escavado na rocha. Todo o sitio está rodeado de íngremes rochedos e rodeado pela ribeira de Lucifecit, a qual há que atravessar para atingir o santuário.

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