Viana do Alentejo e Alcáçovas

Castelo e Matriz de Viana do Alentejo.
Existem pequenas joias espalhadas pelo Alentejo e neste roteiro pelos arredores de Évora, aproximamo-nos do concelho de Viana do Alentejo, à descoberta do seu património.

Santuário de N. Sra. de Aires

Santuário de N. Sra. d'Aires (em obras), Viana do Alentejo.

Na sede de concelho, encontra-se um dos santuários marianos que durante séculos tiveram maior relevância em Portugal, continuando na atualidade com uma importante devoção na região, acolhendo inclusive anualmente uma romaria a cavalo ligando a Moita com Viana, em Abril, e a importante feira anual em Setembro. 

Imagem de N. Sra. de Aires, Viana do Alentejo.

Existem várias lendas em redor do inicio de devoção à Virgem de Aires, quer sejam a descoberta da  sua imagem, enquanto se lavrava a terra após a reconquista cristã ou a intervenção de Maria no pastoreio noturno das rezes. O certo é que este santuário se localiza na via romana que ligava Évora a Alcácer do Sal, e onde se encontraram aras romanas, de onde se pressupõe se origina a invocação à Virgem de Arês, entretanto transformado em Aires. Destas antigas aras existem ainda algumas incluídas na própria estrutura do templo.

Chafariz do Santuário d'Aires, Viana do Alentejo.
O santuário atual foi impulsionado por comerciantes eborenses como agradecimento pelo fim da peste (1748), iniciando uma festividade anual que o rei D. José I, reconhece como feira franca em 1751, devido ao aumento exponencial de devotos e do comércio em redor dos mesmos, que permanece na atual Feira d'Aires.

Substituindo o primitivo templo, ergue-se uma obra maior do barroco / rococó com influência de Mafra, num ritmo que na fachada terá mais de palaciano que de religioso. As torres, o zimbório e os pináculos que rematam o edifício definem-lhe o caráter. No interior destaca-se o baldaquino rococó circular que alberga a imagem quinhentista de uma piedade, evocada aqui como a Virgem de Aires.

A Casa dos Milagres é de visita obrigatória e uma das coleções de ex-votos mais importantes do sul do país, composta por pinturas, a mais antiga datada de 1735, ofertas de cera, fotografias e ramos de noiva ou cabelo. Um autêntico museu de arte popular e etnografia.

Alcáçovas

Palácio dos Henriques, Alcáçovas, Viana do Alentejo.
O próprio topónimo remete para a antiga existência de um castelo (ou dois!) de fundação muçulmana, que alguns identificam nos espaços ocupados pela igreja matriz e pelo paço dos Fragosos de Barros. Esta pequena vila alentejana ganha o seu lugar na história peninsular quando aqui se assina o tratado homónimo (1479) pelo qual D. Afonso V e pelos Reis Católicos de Espanha. Assim D. Afonso V e sua esposa,  D. Joana de Trastâmara, rainha consorte de Portugal e pretendente à coroa de Castela e Leão, renunciam à coroa espanhola sendo-lhes reconhecidos os direitos de descoberta atlântica e do governo do norte de África.

Merece especial visita o recuperado paço dos Henriques de Trastâmara, local da assinatura do tratado, antigo palácio real, e que hoje apresenta ainda alguns vestígios quinhentistas, e de onde se pode apreciar o jardim e capela das Conchas (sec. XVII), assim chamados pelo uso destes elementos para sua decoração.

Matriz de Alcáçovas, Viana do Alentejo.

A matriz, dedicada ao Salvador, foi edificada no século XVI, de fábrica maneirista, sobre uma anterior, da qual subsistem alguns elementos na capela funerária de Pedro Fonseca. Servindo de panteão aos Henriques, vai sofrer diversas alterações ao longo dos tempos mantendo contudo a estrutura de igreja-salão.

Do restante património edificado referir a torre do relógio, o paço (privado) dos Fragosos de Barros (sec. XVI?) ou a ermida de S. Pedro (sec. XVI).

Chocalhos de Honra, autografados por personalidades nacionais, Paço dos Henriques, Alcáçovas, Viana do Alentejo.
Contudo o mais rico património desta vila é um saber que a UNESCO classificou em 2015, como Património Cultural Imaterial, o da arte chocalheira, que corre perigo de desaparecer, existindo apenas 13 artesãos que perpetuam uma técnica única que permitia ao pastor reconhecer o animal pela afinação que o seu chocalho transmitia. Hoje além de uma exposição de chocalhos no paço dos Henriques, existe um "museu" do Chocalho, fruto de um antigo artesão que os colecionou e que deveria ser posta em valor. No dia que visitámos Alcáçovas não foi possível visitá-lo ao tratar-se de uma coleção particular.

Viana do Alentejo

Portal manuelino da Matriz de Viana do Alentejo.
De regresso a Viana o destino é a visita ao seu castelo e às igrejas que o integram. Ainda que este território estivesse ocupado desde tempos remotos, vai ser com D. Dinis que se edifica o recinto fortificado (sec. XIII), posteriormente melhorado por D. João II, apresentando no seu conjunto 5 belas torres cilíndricas, transformada a de maior altura em sineira.

Trata-se um espaço amuralhada que integra um belo exemplo de igreja tardo gótica alentejana com decoração manuelina. O exterior com coruchéus e merlões chanfrados colados à muralha do castelo ou o belo portal manuelino, exemplo maior desta arte, onde figura os Império luso, esferas armilares, armas reais e cruz de Cristo. O interior, além dos elementos manuelinos, apresenta azulejaria e retábulos de vários séculos.

Interior do castelo de Viana do Alentejo.
Completam o espaço a igreja da Misericórdia e o cruzeiro, ambas quinhentistas.

Entre as muitas fontes da vila, há uma que se destaca, a fonte integrada nos antigos Paços do Concelho, chamada dos Escudeiros, de fina traça renascentista.

Fonte dos Escudeiros, Viana do Alentejo.

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