Olivença, praça-forte raiana

Armas manuelinas de Olivença.
Olivença é nossa! Sim é nossa porque, como dizem os oliventinos, são filhos de Espanha e netos de Portugal. É nossa porque são a verdadeira embaixada lusa nas terras da Extremadura. E é nossa porque não se pode percorrer as ruas oliventinas sem tropeçar na história lusa, e é esse o trunfo que alguns oliventinos perceberam lhe dá uma identidade única à vila, assumindo a originalidade de terem sido uma terra lusa em terras de Espanha, o que lhes possibilita ser uma oferta diferenciada na Península Ibérica.

Antiga calçada do Espírito Santo, Olivença.
Sempre tive um sentimento romântico em relação a Olivença, mas o conhecer a vivência real e diária desta terra, transforma esse idílico sonho em admiração e amor pelo fato de Oliven(z)ça ser hoje em dia um testemunho da história lusa e espanhola, sem recurso a falsos e saudosos moralismos. Olivença é nossa porque representa um pedaço da nossa história, assumindo-se naquilo que é, raiana.

Castelo e torre de menagem de Olivença.
Ligada diretamente a Elvas por uma ponte (sec. XX) que veio restabelecer a ligação direta interrompida pela Guerra da Sucessão Espanhola, onde se destruiu a ponte manuelina da Ajuda (sec. XVI), sobre as águas do Guadiana, Olivença distingue-se à distancia pela altivez da sua torre de menagem. 

Porta dos Angeles, Olivença.
O castelo, ao igual que a localidade, é de fundação templária, e passados 60 anos de domínio castelhano passa a integrar o reino de Portugal pelo Tratado de Alcanizes (1297), altura em que o castelo é reforçado por ordem do rei D. Dinis e de seu filho Afonso IV, conservando as armas reais nas suas muralhas e torres. Também se percebe na malha urbana da vila a existência da cerca medieval, com troços de muralhas, as várias portas das muralhas guardadas por torres cilíndricas  e algumas outras torres. D. João II também vai reforçar as defesas deste castelo, construindo a menagem do castelo, a mais alta construída em Portugal e à qual é possível subir sem ter de trepar infindáveis degraus para alcançar os 36m de altura do seu terraço, de onde se tem uma visão perfeita sobre a vila e seus arredores. Antes de abandonar o castelo é obrigatório visitar o museu etnográfico local, considerado um dos mais belos e interessantes da Extremadura.

Porta do Calvário, Olivença.
Além da cerca e castelo medieval, Olivença foi a mais ampla praça-forte seiscentista construída por Cosmander (o mesmo que desenhou as fortificações de Elvas), da qual se mantêm conservadas e restauradas uma boa porção dos seus baluartes e cortinas de muralhas. Um desses baluartes é o de S. João de Deus, próximo da Porta do Calvário, e no interior do qual foi construído o convento / hospital militar da guarnição, e que hoje alberga o posto de turismo e um centro interpretativo sobre o Alqueva.

Nomes oficiais e tradicionais das ruas oliventinas.
Ao percorrer as ruas de Olivença não deixes de observar as placas toponímicas, às quais recentemente foram incorporados os topónimos antigos de origem portuguesa. Estes foram apagados e alterados na época da ditadura franquista de forma a apagar a tradição lusa. Recordemos que foi nessa época que se "proibiu" o uso público da língua portuguesa, fato que levou a população a usá-la apenas em família ou reuniões clandestinas.

Interior da igreja da Madalena, Olivença.

Portal norte da igreja da Madalena, Olivença.
Antigo palácio Cadaval, Olivença.
Olivença é manuelino, e isso pode-se observar no belo portal do antigo palácio Cadaval, que hoje serve de paços do concelho, mas também na igreja da Madalena, escolhida como o mais belo recanto de Espanha em 2012. Os retábulos e azulejos barrocos desta igreja completam um dos exemplos maiores do estilo manuelino. A beleza e proporções do espaço interior onde se erguem as colunas torsas conferem-lhe um aspeto de leveza e unidade entre a arte quinhentista e oitocentista. As portas laterais com a sua decoração manuelina contrastam com o portal renascentista da fachada que assume a forma de torre defensiva.


Assinatura de Manuel dos Santos nos azulejos da Misericórdia de Olivença.
Dois outros tesouros estão guardados entre as muralhas oliventinas, o retábulo da Árvore de Jessé, na igreja de Santa Maria do Castelo (sec. XIII/XVI) e os azulejos barrocos da igreja do Espírito Santo, da Misericórdia local, sendo um dos raros exemplos de arte barroca assinados pelo seu autor.

Tecula mecula, doce típico oliventino.
E claro, completam esta visita a Olivença o percurso pelo "Paseo de Portugal" e pela "Plaza de España", onde se cruzam os turistas e o bulício dos locais na sua vida diária. É também o sitio perfeito para sentar-se, tomar um refresco e provar as carnes de porco preto. Contudo o passo final desta visita a Olivença tinha que ser o adoçar de doca com a iguaria típica local, a tecula mecula, uma relíquia saída dos conventos da vila. 

Olivença é universal porque representa na perfeição o significado de ser raiano, e como tal é nossa!

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