Valência de Alcântara, roteiro de pedras

Anta Zafra III, Valência de Alcântara, Espanha.
Rumar a Valência de Alcântara, na raia entre Portugal e Espanha, para um fim de semana de experiência rural e caminhadas é uma alternativa económica que se deve considerar em qualquer época do ano.

A Extremadura, terra irmã do Alentejo e das Beiras tem uma vasta oferta e é um destino próximo ao qual nem sempre se dedica a atenção que merece.

Valência de Alcântara, em conjunto com Castelo de Vide e Marvão do lado português, formam um triângulo rico em património arqueológico, em que destacam as antas (ou dólmenes), constituindo a maior concentração da península Ibérica deste tipo de monumentos. Só em Valência de Alcântara existem mais de 40 exemplos desta construção megalítica destinada a sepulturas, construídas no período do Neolítico, e dos quais hoje nos chegam maioritariamente apenas as estruturas geológicas que lhes servia de base, e no interior das quais se procediam aos enterramentos. Estes monumentos eram visitados periodicamente de forma sacramental, onde se depositavam oferendas ou se procedia a outra qualquer cerimónia. Os dólmenes seriam uma representação da deusa-mãe, o ventre da terra do qual se nasce e ao qual se regressa após a morte. Há que imaginar as antas cobertas pela mamoa (estrutura de pedras e terra), da qual hoje apenas restam vestígios, semelhante a uma pequena colina, qual ventre grávido na planura do território.

Azinhaga no percurso das antas de Zafra, Valência de Alcântara, Espanha.
Em redor de Valência de Alcântara existe uma rede de trilhos perfeitamente preparados para partir à descoberta destas antas milenares, das quais as mais aconselhadas são o roteiro 2 - Los Zafras e o roteiro 5 - Aceña de la Borrega.

A primeira trata-se de um trilho, que permite conhecer este conjunto de 4 antas, em diferentes estados de conservação, num percurso de ida e volta, num total de quase 6 kms, que facilmente qualquer pessoa, ainda que não acostumada a caminhadas pode fazer em pouco mais de 2 horas de passeio.

Para conhecer em detalhe os trilhos podes usar a app ou web wikiloc. Para o trilho das antas dos Zafras neste enlace ou neste outro para o trilho da Aceña de la Borrega.

O centro histórico desta vila, que esteve sob domínio luso durante 24 anos na época da Guerra da Restauração, apresenta uma das maiores coleções de portais ogivais medievais, integrados numa judiaria catalogada como património nacional em Espanha. O conjunto de 266 portais, a maioria ogivais (ainda que existam outros estilos), espalham-se por 19 ruas caiadas, sendo um verdadeiro trilho urbano que vai fazendo tropeçar constantemente nestes testemunhos históricos, enquanto se visitam outros edifícios monumentais.

Interior da sinagoga de Valência de Alcântara, Espanha.
Outra peça maior da vila é a antiga sinagoga (sec. XV) usada até à expulsão dos judeus dos reinos espanhóis em 1492, e de formas muito similares à de Tomar.

Numa das entradas da vila encontra-se a ponte romana sobre a ribeira de Avid e que pode ser o ponto de partida para a visita à vila, no constante jogo de ir descobrindo as marcas de cristianização das antigas casas judias. Merece também a visita o antigo palácio do Marquês da Conquista, onde além do posto de turismo existe uma casa museu dedicada a um pintor local.

O castelo, medieval e abaluartado, permite ter uma panorâmica sobre os campos vizinhos à vila, além de ser o sitio ideal para uma refrescante cerveja ou petisco.

A caminho da igreja Sta. Maria de Rocamador, Valência de Alcântara, Espanha.
Ali ao lado, ou melhor, encastrada entre as muralhas, a igreja de Sta. Maria de Rocamador (sec. XVI) sobre outra anterior. O destaque vai para a pintura de Luis de Morales, talvez a única in situ, conhecida como a "Virgem e os Santos Joãos" (sec. XVI) e que corresponde à época de maior esplendor deste pintor régio que também trabalhou em Portugal. Ainda no interior deste templo encontra-se a imagem do Cristo (sec. XVI) atribuída a Alonso de Berruguete. Por último, e não menos interessante, referir que foi debaixo desta abóbadas, ainda de feições góticas, que o Rei D. Manuel I se casou com a filha primogénita dos Reis Católicos, D. Isabel de Aragão, que já antes esposa do príncipe herdeiro D. Afonso de Portugal, consumando o estabelecido no Tratado de Alcáçovas. O casamento é anualmente recordado na vila, em que recria dita boda real cada verão.

Encontrar um aqueduto romano, e posteriormente reformado, nos campos em redor de Valência de Alcântara é outro dos atrativos para a visita a esta zona raiana da Extremadura.

Aproveitando essa época, ou outra qualquer, é certamente um destino que vai encantar pelo património das grandes pedras neolíticas ou das pedras judaicas , e claro não esquecendo a rica oferta gastronómica que existe nesta zona!

Igreja de N. Sra. Encarnação, Valência de Alcântara, Espanha.





Anta de Zafra II, Valência de Alcântara, Espanha.

Muralha abaluartada de Valência de Alcântara, Espanha.

Marcas de cristianização, Valência de Alcântara, Espanha.

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