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Portugal
S. Domingos, o convento medieval de Elvas
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Claustro do Convento N. Sra. dos Mártires, Elvas. |
Os frades dominicanos, instalados primitivamente no cimo do monte de N. Sra. da Graça, desciam à cidade, atravessando a ponte dos frades da rua do Matadouro, para pregação, mas rapidamente a população solicitou a sua permanência dentro das muralhas, estabelecendo-se em redor da ermida de N. Sra. dos Mártires em 1267, iniciando-se a construção do mais belo e maior templo gótico de Elvas.
Segundo os historiadores de arte o convento dominicano de N. Sra. dos Mártires elvense é um exemplo maior da tipologia mendicante nacional, conservando ainda hoje no interior da igreja a fisionomia de 3 naves, bastante alteradas nas renovações barrocas, mas sobretudo a cabeceira e partes do claustro.
A cabeceira, alta e esbelta, interior e exteriormente, marca a arquitetura do edifício e chama a atenção de quem entra pelas portas da igreja. A luz que sobressai das esguias janelas, enquadradas pelos contrafortes góticos, atraí-nos para contemplar as abóbadas ogivais da abside, decorada com restos de pinturas originais. Ainda nos braços do transepto advinham-se as rosáceas primitivas, mutiladas seguramente pela intervenção barroca ou quem sabe alvo de algum projétil inimigo durante algum ataque, atendendo a que esta cabeceira se conforma como um cavaleiro altaneiro no baluarte seiscentista da fortificação elvense.
A imagem protetora e padroeira do convento encontra-se na pequena capela colateral quadrada do lado epistolar. Nossa Senhora dos Mártires, cuidadora das almas dos mártires cristãos que faleceram na luta pela conquista de Elvas, é uma escultura de pedra policroma quinhentista, e um dos atrativos que não se devem descuidar ao visitar este templo dominicano.
Envolto ainda pelo véu medieval convém não deixar de conhecer a sacristia e o claustro do antigo convento. Ao claustro acede-se desde o interior do museu militar que ocupa parte das dependências conventuais, ocupadas após a extinção das ordem religiosas, e pelas quais passaram sucessivas gerações de portugueses cumprindo as suas obrigações militares.
Este espaço conventual, devido à sua grandeza, poderia ter acolhido as Cortes de 1361 realizadas em Elvas, sendo nelas que D. Pedro I autorizou por primeira vez tivessem assento os representantes da arraia-miúda, permitindo dar voz ao povo, e ao rei conhecer de primeira mão as necessidades das gentes humildes sem que estas lhe fossem transmitidas passando o filtro dos poderosos fidalgos ou clérigos nacionais.
Para terminar este périplo pelo medievo do convento, observe-se a cabeceira desde o exterior, cruzando olhares com as suas gárgulas, imagens fantásticas do imaginário medieval, que permanecem desafiando a imaginação de quem lhes enfrenta, testemunhas dos 750 anos de história deste templo elvense.