Mosteiro Real de Santa Maria de Guadalupe

Templete no claustro mudéjar, Mosteiro de Guadalupe, Espanha.
Este mosteiro situado na Extremadura espanhola, entre colinas e montados, é uma joia da história universal, reconhecido pela Unesco como Património Mundial, mas também uma testemunha da história lusa.

Este pode ser o destino ideal para uma visita de domingo ou para um fim-de-semana, pois está a menos de 190 kms desde Badajoz.

Representação histórica à porta do santuário de Guadalupe, Espanha.
Deve-se ao rei D. João I de Castela, no sec. XIV, a encomenda à Ordem dos Jeronimos de cuidarem do santuário de N. Sra. de Guadalupe e erguerem um mosteiro. O mosteiro e dependências anexas são construídos em estilo mudéjar, sendo sucessivamente melhorado até ao sec. XVIII.

Rapidamente a devoção à Virgem de Guadalupe se espalha não só por Espanha mas também pelo Reino de Portugal. Conta a lenda que a imagem mariana foi encontrada por um pastor, Gil Cordero, e que ali se encontrava escondida desde a invasão muçulmana do sec. VIII. A bem da verdade note-se que a imagem está datada do sec. XII. Muitos monarcas espanhóis foram devotos desta imagem doando terrenos, riquezas e privilégios ao mosteiro.

Tumulos dos infantes de Portugal, Mosteiro de Guadalupe, Espanha.
Também os reis de Portugal, ainda que por vezes enfrentados belicamente com os reinos espanhóis, compartiam a fé à "Morenita" (nome carinhoso pelo qual se conhece a imagem dado esta ser de madeira de cipreste e como tal escura). Esta devoção terá chegado à corte portuguesa pois alguns dos monges jerónimos fundadores serem portugueses. Um dos primeiros monarcas devotos de Guadalupe terá sido D. Pedro I, cujos dois filhos, com D. Inês de Castro  encontram-se sepultados neste mosteiro. Assim o infante D. Dinis, que foi sucessivamente aliado do Reino de Castela, e sua irmã D. Beatriz, infanta de Portugal e condessa de Alburquerque foram sepultados neste mosteiro, inicialmente na igreja e hoje colocados no acesso ao camarim, onde podemos admirar as armas de Portugal e as suas imagens em bronze em posição orante.

Como nota curiosa desta dupla devoção luso-espanhola, atente-se ao episódio da visita ao mosteiro de Guadalupe do santo Condestável D. Nuno Alvares Pereira após a vitória obtida na Batalha de Valverde, em 1385, frente às tropas castelhanas, agradecendo a proteção da Senhora morena!

D. Afonso V, o africano, visitou o Real Mosteiro em 3 ocasiões, e D. João II fez muitas doações à instituição, como atestam alguns dos quadros que decoram as paredes do claustro mudéjar. Outro monarca muito devoto a Guadalupe foi D. Manuel I. D. João III trouxe um jerónimo de Guadalupe para reformar o Mosteiro de Belém, e D. Sebastião usou o mosteiro para acordar com Filipe II de Espanha a expedição a Alcácer-Quibir.

imagem de N. Sra. de Guadalupe no seu camarim, Mosteiro de Guadalupe, Espanha.
Outra portuguesa sepultada, com honras, no mosteiro é Maria de Guadalupe de Lencastre e Cardenas, patrocinadora da construção do camarim da Virgem, onde se pode visitar a imagem "milagrosa" da Senhora de Guadalupe.

Além destas ligações à história de Portugal o mosteiro é de uma beleza extraordinária e alberga vários museus e muitas obras de arte.

Claustro mudéjar do Mosteiro de Guadalupe, Espanha.
A visita pelo mosteiro é guiada (5,00€ - 2016) e inicia-se justamente pelo claustro mudéjar, peça maior deste estilo em todo o mundo, em cujo centro se encontra um templete do mesmo estilo, decorado com os grandes quadros que mencionei acima.

Um dos livros iluminados de canto da coleção do Mosteiro de Guadalupe, Espanha.

O primeiro museu que consta da visita é o de Livros Iluminados de varios séculos. Segue-se o museu de Bordados, no antigo refeitório quinhentista, onde se expõem paramentos litúrgicos ricamente executados pelos próprios monges, alguns deles usando metais nobres e pedras preciosas. No museu de Belas Artes encontram-se pinturas de João de Flandres, El Greco e Goya.

Pormenor da sacristia do Mosteiro Mosteiro de Guadalupe, Espanha.
Contudo a peça, quiçá de máximo valor artistico, é a Sacristia. Construída no sec. XVII, e conhecida como a capela sistina espanhola. Executada em mármore e ricamente decorada, apresenta uma serie de obras in-situ de Francisco de Zurbarán (1598-1664), considerado o maior pintor da sua época.

Sacristia do Mosteiro de Guadalupe, Espanha.
Segue-se o Relicário, peça arquitetónica do sec. XVI, onde além duma grande coleção de relíquias, se pode admirar o tesouro do mosteiro, com destaque para a coroa pontifícia de N. Sra. de Guadalupe, Rainha das Espanhas e Padroeira da Extremadura espanhola.

A visita termina com o convite a subir ao camarim barroco de N. Sra. de Guadalupe, acompanhados por um monge franciscano (estes substituiram os jeronimos em 1907), para em devoção visitar a milagrosa imagem.
Antigo Colégio de Infantes, Guadalupe, Espanha.
A "puebla", denominação local para a aldeia de Guadalupe, é um pequeno núcleo urbano, onde destacam ainda outros edifícios monumentais, além da arquitetura popular. O antigo Colégio de Infantes, hoje Parador (pousada), é outro exemplo da arquitetura mudéjar do sec. XVI, bem como os hospitais e albergues anexos a este. Outro edifício "maior" é a igreja da Santíssima Trindade (sec. XVIII) obra de Manuel de Lara Churriguera, artista que dá nome a um sub-estilo barroco espanhol.

Rua da judiária de Guadalupe, Espanha.
Ainda integrada no complexo do mosteiro encontra-se uma unidade hoteleira (hospederia) e onde destaca o claustro gótico, no qual podemos tomar um café ou uma "tapa".

Passear pela aldeia é encontrar ainda os restos da muralha medievais, as suas portas e a zona da antiga judiaria, com as suas arcadas medievais.

É um destino que recomendo e que pode complementar uma visita a outra localidades monumentais da Extremadura, como Trujillo ou Cáceres.
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