Bordéus, porto da lua

Place de la Bourse, Bordéus, França.
O Porto da Lua, nome pelo qual é conhecida Bordéus, deriva precisamente da forma do meandro do rio Garona no seu passo pela cidade, e que lhe permitiu ser durante muitos séculos um importante porto comercial. Hoje a capital da Aquitânia, tem a sua zona histórica classificada como Património Mundial, pelo esplendor que o século XVIII deixou na cidade, que é depois de Paris a que maior número de monumentos classificados tem em França. Esse florescimento da cidade no século das luzes deveu-se ao reconhecimento mundial que a partir dessa época tiveram os vinhos aí produzidos e que continuam hoje em dia a ser uma das mais famosas regiões vinícolas de todo o mundo.

Esta função de entreposto comercial inicia-se simultaneamente com a fundação da cidade, atribuída aos romanos, e que foi sucessivamente ocupada até que no sec. XII passa a incorporar-se na coroa inglesa, iniciando-se aí os primordios do comércio vinícola com o outro lado do Canal da Mancha. No sec. XV incorpora-se definitivamente à França, incrementando-se o seu perfil mercantil ao ser o ponto de chegada e partida de açúcar e escravos com as Antilhas francesas. Chegou a ser inclusivé a capital da França durante as duas guerras mundiais, e foi precisamente esta que serviu, no sec. XIX, como exemplo para a renovação de Paris.

A visita ao centro histórico de Bordéus é facil de percorrer a pé, e eu fi-lo bairro por bairro. Noutros apontamentos podes ler também a visita que fiz à Cité du Vin e a Saint-Émilion.

Chartrons

Rua de Notre Dame e Igreja de S. Luis, Bordéus, França.
O nome deste bairo deriva de uns monges cartuxos que ali se estabeleceram no sec. XIV, mas será no sec. XVIII que este bairro à beira rio se transformará na área de residência dos ricos mercadores, e dos seus armazéns, dos quais saiam os vinhos em direção ao cais de Chartrons e daí para o REino Unido e além Atlântico. Hoje passear pelas suas ruas é encontrar refinados restaurantes, lojas cheias de glamur e requinte, antiquários, além do Museu do Vinho e do seu Negócio. Imprescindível é a rua de Notre Dame, onde se concentram muitos destes negócios e onde se encontra também a igreja de S. Luis, um templo neogótico tendo detrás o mercado de Chartrons, um belo edifício da construção de ferro do século XIX, com uma curiosa forma octogonal, e, onde além dos produtos frescos, há esplanadas e belos restaurantes. Junto à frente ribeirinha há mais uma boa dezena de locais e esplanadas onde sentar-se e ver os barcos de cruzeiro atracados.

La Bastide

Ponte de Pedra, Bordéus, França.
"A outra margem" do rio Garona é um bairro da cidade que com a construção da Ponte de Pedra, em 1808, se coneta por primeira vez com o centro da cidade. Esta ponte permitiu às tropas napoleonicas cruzar o rio em direção à Península Ibérica, sendo a única durante 150 anos até que se seguiram a construção de outras pontes. Para aceder a La Bastide podemos cruzar a pé pela ponte, ou no elétrico, ou utilizando o Batcub, um pequeno ferry que faz parte da rede de transportes públicos da cidade. A vida neste bairro gira em torno ao Jardim Botanico e do centro Darwin, um espaço comunitário e multicultural onde decorrem animados serões. Ao cruzar a ponte, no centro da praça de Stalingrado, encontra-se a escultura de um enorme leão azul (Xavier Veihan - 2005).

Jardin Public / Saint Seurin

Jardim Público, Bordéus, França.
O jardim público é o coração deste bairro de ares burgueses, construído em 1746, sobre o que eram antes vinhas e hortas. Trata-se de um grande espaçco de pradarias e lagos, rodeado por vivendas burguesas do sec. XVIII. É num dessas vivendas que hoje existe uma cafetaria ideal para refrescar-se e recuperar forças para seguir à descuberta de Bordéus. Podemos apelidar este bairro como o arqueológico. Porquê? Aqui encontram-se, debaixo da Basilíca de Saint Seurin (sec. XI, XVI, XIX), as reliquias de um cemitério paelocristão do sec. IV ou os restos do Palácio Gallien (sec. II), o único testemunho do passado romano de Bourdéus.

Quinquonces / Grands-Hommes

Maison Gobineau e Monumento aos Girondins, Bordéus, França.
O bairro chique de Bordéus, é fácil de delimitar pois podemos desenha-lo formando um triângulo cujos ângulos são a praça de Gambetta, a praça Tourny e a praça Comédie e no centro do qual está a praça Grands-Hommes. É principalmente na Allée de Tournay que se encontram as marcas de moda mais exclusivas, restaurantes de estrelas Michelin e hotéis de luxo. Neste ângulo da praça Comédie, e ainda em Tournay, encontra-se a Maison Gobineau, qual proa de um navio, enfrentando o Grand-Théâtre, um edifício do século das luzes, considerado um dos mais belos do mundo. Um pouco mais além está a maior praça da Europa, a esplanada de Quinquonces no limite da qual se ergue o monumento aos Girondins, grupo de deputados locais que participaram na revolução francesa. É uma coluna coroada por uma estátua da liberdade, na base da qual existem fontes de bronze. No outro lado da esplanada, junto ao rio, duas outras colunas suportam alegórias ao comércio e à atividade maritima. Ainda no interior do triângulo dourado não deixes de entrar na igreja barroca de Notre Dame e no seu antigo convento anexo.
Por curioso que seja na Galerie des Grands-Hommes encontrei o local ideal (preço / qualidade) mais asequível do centro da cidade para fazer os meus almoços neste dias que por ali passei. E depois de almoçar era imperativo passar por uma das mais famosas pastelarias ali localizada, especializadas nos deliciosos "Canelé de Bordeaux", doce tipíco da cidade, à base de canela.

Vieux Bordeaux

Porta de Cailhau, Bordéus, França.
Na verdade a Cidade Velha esta composta por vários bairros, mais ou menos correspondendo às paróquias encerradas dentro das, já desaparecidas, muralhas. Uma das portas da antiga muralha que sobreviveu é a Porta de Cailhau (1494) mandada construir por Carlos VIII, cuja estátua encima a porta virada ao rio. Existe ainda outras portas da muralha, o Grand Cloche, assim conhecido pois desde o sec. XIII alberga o relógio e o sino para alertar de perigos aos habitantes, a Porta de Bourgogne, que enfrenta a Ponte de Pedra e a Porta de Dijeaux. Um dos monumentos mais visitados de Bordéus é a Torre Pey Berland, torre sineira da vizinha catedral, mas independente desta. Mandada construir pelo arcebispo que lhe dá nome em 1440, permite desde o seu cimo ter uma vista extraordinária sobre o Porto da Lua.

Torre Pey Berland, Bordéus, França.
A catedral de Sto. André que hoje podemos admirar é uma construção gótica, que sofreu vários acidentes ao longo dos séculos, sendo a Porta Real (norte) o ponto de maior valor artistico nesta igreja. Junto à catedral situam-se os atuais paços do concelho, instalados no antigo palácio epsicopal, edificado pelo arcebispo Rohan (que dá nome ao palácio) no sec. XVIII e que na revolução francesa se transformou na casa de todos os bordaleses.

Palácio Rohan, Bordéus, França.
A outra grande igreja da cidade é a basilíca de S. Miguel, edificada fora de muralhas no sec. XV em estilo gótico flamejante, e que, ao igual da catedral, conta com um campanário independente cujo pináculo atinge os 114 metros de altura. Hoje em dia, em redor da basilíca, reside maioritariamente a comunidade islâmica, dando um sabor multicultural a este bairro. Uma das ruas com maior fluxo de pessoas que já vi é certamente a rua peatonal de Sta. Catarina, é uma extensa arteria (1,2 kms) com todas as marcas internacionais e vários centros comerciais. Esta rua corresponde ao caminho francês do itinerário de peregrinação a Santiago de Compostela, também ele classificado Património Mundial.

Basilíca de S. Miguel, Bordéus, França. 
Outro dos locais públicos demandados pelos locais e visitantes é a praça do Parlamento, com muitas esplanadas e restaurantes, ao centro da qual se encontra a fonte de Garros (1865).  Uma das iguarias pela qual é conhecida Bordéus é pelas suas ostras, e é precisamente nas ruas em redor da igreja de S. Pedro (XIV) que se podem encontrar locais onde degusta-las.

Place de la Bourse

Praça da Bolsa, Bordéus, França.
Ainda que esteja incluída no Vieux Bordeaux, esta praça merece um capitulo à parte. Correspondendo aos limites da antiga muralha medieval, é por decisão do governador local que se vai erigir uma praça aberta ao rio e dedicada ao rei de França, Luis XV, colocando-se ao centro uma estátua equestre do monarca. O projeto é entregue ao arquiteto régio Ange-Jacques Gabriel, que não vê a sua obra ser construída, cabendo ao seu filho levá-la à pratica (1730-55). Com a revolução francesa cai o gradeamento que separava a praça do cais do rio Garona e também a estátua real, passando a chamar-se praça da Liberdade. Hoje, no sitio onde estava dita estátua, ergue-se a fonte das Três Graças. Nos edifício que definem a praça funciona o centro de interpretação do património mindial burdalês, a Câmara de Comércio da cidade e o Museu da Aduana. Em frente da praça encontra-se o Espelho de Água, um enorme jogo de água de 3.450m2, criado em 2006, e que é já o verdadeiro ex-libris de Bordéus. Não há melhor local para passear e refrescar-se nas noites estivais. Construída em granito negro permite que rapidamente se preencha de água criando o efeito de espelho, para passados 15 minutos lançar uma nuvém de 2 metros de altura, durante 5 minutos. Soberbo! É considerado um exemplo de urbanismo paisagistico ao serviço das pessoas. Os burdaleses idolatram-no e ao vê-lo entendemos porquê.

Aos dois lados do espelho um jardim, construído ao longo do cais, permite o local ideal para realizar um piquenique noturno vendo o brilho desta cidade ao luar.

Praça da Bolsa e o espelho de água, Bordéus, França.
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