Bélgica
Património Mundial
Gante, a joia flamenga
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Campanário visto desde os Paços do Concelho, Gante, Bélgica. |
Esta cidade, atravessada pelos rios Lys e Escalda, apresenta um interessante número de edifícios históricos, recantos e obras de arte que me permitem considera-la uma joia na região da Flandres. Ainda que ocupada anteriormente, pode-se afirmar que a cidade nasce com o estabelecimento de duas abadias, em 650, ao redor das quais se vai desenvolver um núcleo comercial abastado. Com a entrada na Idade Média, e debaixo o protetorado dos Condes de Flandres a cidade renasce depois de um período em que esteve controlada pelos víquingues. No sec. XIII chega a ser a maior cidade da Europa depois de Paris, podendo isso ser apreciado pela excelência das construções que ainda hoje impressionam quando a visitamos. Os contactos comerciais que estabelece com a Escócia e Inglaterra vão ser os responsáveis pelo dinamismo comercial que vai desenvolver ao longo dos seguintes séculos e que lhe permitiu, em conjunto com Bruges, ter um papel decisivo na afirmação da Flandres. Os períodos de dominação espanhola e as guerras religiosas da Reforma levam-na quase à degradação sendo que apenas nos sec. XVIII e XIX recupera com a industrialização. Hoje é a 4ª cidade da Bélgica em número de habitantes, cerca de 250.000.
O percurso que proponho inicia-se na estação de Sint-Pieters (1913), de onde aconselho apanhar o elétrico, se não te apetecer um caminho de 2,5 Kms até ao centro. A viagem de comboio desde Bruxelas demora aproximadamente 1h00 até esta estação e daí a linha de elétrico nº 1 até ao Gravensteen (Castelo dos Condes da Flandres). Esta viagem é por si só uma boa primeira abordagem a Gante.
O Gravensteen é uma construção defensiva do sec. XII, erigida sobre anteriores datadas do sec. IX, e que ainda hoje apresenta todos os aspetos originais deste castelo, com as suas torres, fosso e a torre de menagem. Este espaço serviu de corte da Flandres até à construção do Prinsenhof (sec. XIV). Serviu depois de Tribunal regional até ao sec. XVIII, quando foi comprado por um particular e transformado em fábrica de algodão, reabilitado no sec. XX alberga hoje um pequeno museu da inquisição e é um ótimo ponto para uma primeira abordagem à cidade desde as suas torres com vistas sobre todo o centro histórico.
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Selfie em frente às torres de Gante, Bélgica. |
Cruzando o rio Lys encontra-se o Groot Vleeshuis (Mercado da Carne), o espaço destinado ao controlo e venda deste bem em condições de higiene e salubridade, foi construído no sec. XV, e hoje serve de montra aos produtos regionais e onde destaca o presunto local, que se pode ver pendurado nas traves de madeira do edifício.
O próximo destino é a Korenmarkt (Mercado de Cereais), ampla praça onde se localiza o antigo edifíco de correios belga, com a sua esbelta torre do relógio erguido num estilo eclético de 1909, transformado agora em centro comercial. Em frente fica a Sint-Niklaaskerk (sec. XIII), em estilo gótico regional, onde destacam exteriormente os contrafortes cilíndricos e a sua alta torre, localizada sobre o cruzeiro da igreja permitindo a entrada de luz no interior do templo.
Detrás desta encontra-se outra torre, o Belfort, classificado como Património Mundial em conjunto com outros Campanários da Bélgica e França, é uma testemunha da vida pública desta cidade desde o sec. XIV, servindo como torre do relógio, de vigilância, prisão e caixa-forte da tesouraria municipal. Subir os seus 91 metros de altura permitem ter uma vista espetacular sobre a cidade e arredores. O edifício que lhe esta anexo do sec. XV era o Mercado de Tecidos de Gante.
Para terminar a tarde cruzo o Sint-Michielsbrug, ponte de S. Miguel, de onde se tem um soberba visão do centro histórico desta urbe. A ponte deve o seu nome à vizinha igreja de S. Miguel e nele encontra-se uma estátua sobre um candeeiro do arcanjo combatendo o dragão do mal. Ainda antes de sair da ponte é impossível deixar de admirar as ruas que delimitam o rio Lys, a rua Korenlei (Cais dos Celeiros) e a Graslei (Cais da Erva), enfrentadas uma a outra, e onde se podem observar centos de pessoas aproveitando o sol da tarde. Ainda desde a ponte tem-se uma visão sobre as três torres medievais da cidade, numa panorâmica em que se sobrepõem entre elas. A torre da Sint-Niklaaskerk (igreja de S. Nicolau), o Belfort (Campanário Municipal) e a torre da Sint-Baafskathedraal (catedral de S. Bavão).
Todos alguma vez usamos a expressão "com a corda ao pescoço", pois bem é em Gante que nasce esta expressão ou ao menos aqui ganha importância. O imperador Carlos V, nascido precisamente nesta cidade, encontrou sempre resistência às suas políticas nos seus patrícios, o que o levou a decretar que em 1540 o povo miúdo, burgueses e nobres se lhe apresentassem em palácio com uma corda em redor do pescoço, reconhecendo assim a sua submissão ao seu governo. Ainda hoje os habitantes de Gante são conhecidos como "stroppendragers", os que têm uma corda ao pescoço. Se tens curiosidade existe uma estátua representando esta história no local onde existiu o desaparecido Prinsenhof, palácio onde nasceu o imperador.
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Armas de Isabel de Portugal, esposa do imperador Carlos V, no Salão Nobre dos Paços de Concelho de Gante, Bélgica. |
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Interior da igreja S. Nicolau, Gante, Bélgica. |
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Igreja de S. Nicolau e Campanário de Gante, Bélgica. |
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Pormenor da ponte de S. Miguel, Gantes, Bélgica. |
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Castelo dos Condes de Flandres, Gante, Bélgica. |
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Mercado da Carne, Gante, Bélgica. |
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Mercado do Peixe, Gante, Bélgica. |
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