O órgão grande da Sé

Órgão barroco da Antiga Sé, Elvas.
Finalmente, e depois de muitas décadas, regressa à vida o grande órgão da Antiga Sé de Elvas.

Nos últimos anos a matriz elvense tem sido objeto de várias intervenções de restauro e conservação, quer nas estruturas quer nas obras de arte, tendo inclusive recebido nova iluminação ornamental, interior e exterior, renovando e valorizando esta igreja, que é um dos postais mais repetidos da nossa cidade.

Muitos, como eu, nunca tivemos o prazer de escutar os sons que tão belo instrumento musical dado o seu estado de degradação e abandono a que esteve submetido ao longo de quase todo o século XX. Mas agora, espero, teremos a oportunidade de ouvir as mais belas melodias religiosas e eruditas que ali podem ser interpretadas. Imaginem um réquiem com coro!...

Este órgão, situado no coro alto, é uma das obras que o Bispo D. Lourenço de Lencastre deixa na catedral elvense, tendo-o encomendado ao organeiro italiano Pascoal Caetano Oldovini, que à época já trabalhava no Alentejo na feitura de outros órgãos na arquidiocese de Évora. O grande órgão da Antiga Sé de Elvas é seguramente o mais belo instrumento pneumático ao sul do Tejo, e isso deve-se sobretudo à talha dourada que o emoldura.

Nele seguramente se executaram muitas das peças que Manuel Rodrigues Coelho, ilustre músico elvense setecentista, o qual chegou a ser mestre da capela real lisboeta, compôs para órgão e que simbolicamente é o patrono da Academia de Música de Elvas. Academia e órgão unem-se historicamente a 1 de outubro de 1988, quando em Elvas se celebra a nível nacional as comemorações do Dia Mundial da Música, tendo a titular da pasta à época, a Secretaria de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, deixado a promessa de instituição da escola musical e da recuperação deste órgão. Felizmente para os jovens elvenses a génesis da instituição musical foi bem mais breve que a reparação do órgão à Sé.

Poucos anos depois, e em plena adoslecência, subi algunas vezes à torre da Sé, tendo que passar pelo coro alto, onde descansavam os restos da máquina, foles e alguns tubos do órgão, e alguma que outra vez manipulei aquelas peças que despertavam a minha curiosidade.

Este órgão foi originalmente concebido como uma peça de aparato, que utilizando a dialética barroca, marcaria desde a primeira hora o espaço interior da catedral, perpetuando nele a presença do bispo encomendador. Completada a sua construção em 1762, conforme documenta a assinatura datada do organeiro descoberta na caixa do instrumento, este apresenta na secção superior a canaria disposta em cinco torres, salientes em progressão triangular, dispostas a diferentes alturas, num entabulamento de talha dourada dos finais do sec. XVIII. Completam-no, ainda nesta secção, três conjuntos de palhetas horizontais abaixo das torres periféricas e central, situadas sobre a consola. A secção inferior é composta pela balaustrada da tribuna, de dimensões e volumes variados, sendo os laterais cilíndricas, num conjunto de talha dourada com fundo esmeralda, decorados ao centro pelas armas episcopais de D. Lourenço de Lencastre, com o chapéu e cordões prelatícios, enquanto nas varandas cilíndricas laterais se encontram as iniciais – D. Lço de Lte. Completa esta secção uma mísula, onde está inscrita a data de 1777, ano de conclusão dos trabalhos de entalhamento.

Regressado e montado que está o órgão grande oitocentista da Antiga Sé, e após o recital comemorativo da sua restauração, cabe agora às entidades locais e regionais, tanto civis como religiosas, executar um programa de dinamização que coloque ao usufruto da população o órgão, que pode também constituir-se como um cartaz cultural para a cidade.

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