Meknès, a Versalhes marroquina

Bab al Mansour, Meknès, Marrocos.
A cidade verde de Meknès é em conjunto com Rabat, Fez e Marraquexe uma das cidades imperiais de Marrocos. Fundada no sec. VIII é no final do século XVII que se transforma numa cidade palaciana.

Foi em 1675 que o sultão Mulay Ismaïl decide transferir a capital para Meknès com intenção de transformar esta localidade numa corte à semelhança de Versalhes de Luis XIV, com o qual tinha vários acordos frente ao inimigo comum, o Reino de Espanha.

Além do seu palácio faz construir uma grande muralha, de mais de 40 km, rodeando todo a cidade. Para engrandecer Meknès ordenou inclusive a destruição de outros palácios e edifícios em Fez e Marraquexe, para que estes não ofuscassem a sua cidade cortesã.  Foi contudo um soberano cruel que se recriava com a execução de escravos cristãos, utilizados na construção da cidade e aprisionados sobretudo em ataques às frotas europeias que cruzavam a costa africana. Era também um colecionador de mulheres, pois o seu harém era composto por 550 esposas oficiais e 4.000 concubinas, das quais teve 888 filhos varões  e 342 filhas que mandou estrangular ao nascer.

Interior do mausoléu, Meknès, Marrocos.
Um dos pontos obrigatórios de visita é a Prisão de Kara, que segundo a tradição foi construída por um "arquiteto" português aprisionado pelo sultão, ao qual a prisão deve o seu nome. É um enorme complexo subterrâneo, onde a luz apenas entra pelas aberturas do teto, que chegou a albergar mais de 40.000 escravos. Ao lado está o koubba el Khayatine, salão onde o sultão recebia as embaixadas estrangeiras em visita a Marrocos.

Outras das curiosidades desta cidade imperial são o Lago de Agadal, construído pelo sultão como reserva de água para a rega dos jardins de palácio, e o Hri Souani um complexo formado por celeiro, estábulo (com capacidade para 12.000 cavalos) e depósito de água, preparados para permitir a resistência da cidade em caso de ataque (Entrada 10 dirham).

Curioso é também o acesso ao Palácio Real de Mulay Ismaïl (não visitável) com o estreito caminho amuralhado com altas paredes e um percurso de mais de 2kms!

Contudo o que mais impressiona de Meknès é a Bab (porta) el Mansour e o Mausoléu do sultão Ismaïl.

A Bab el Mansour é considerada a mais bela porta do norte de África. Situada em frente à grande esplanada da praça El Hedim é a principal entrada da medina. Segundo a tradição foi erguida sob o traço de um cristão convertido ao Islão. Conta a lenda que numa visita à obra o sultão lhe terá perguntado se este poderia faze-la ainda melhor, ao que este respondeu que sim, levando de imediato a que o sultão ordenasse a sua imediata execução, evitando que alguma vez se fizesse outra porta mais esbelta que esta.

Quanto ao Mausoléu é obviamente a obra da vida (e morte) do cruel sultão que ocupou uma antiga mesquita para construir o local do seu repouso eterno. Todo o espaço está ricamente decorado com azulejos, estuques, tetos de madeira lavrados,  inscrições em louvor do sultão e fontes, quer ornamentais quer outras para as oblações. Na sala principal situa-se o sarcófago do sultão junto à da sua primeira esposa e dois dos seus filhos. Esta obra que foi efetuada ainda durante o seu reinado reflete bem o esplendor no qual vivia o sultão, comparando-se com o Rei Sol francês. Como nota existem no mausoléu 4 relógios de pêndulo aos cantos da sala do túmulo, ainda em funcionamento, oferta de Luis XIV ao seu congénere marroquino. Por estas e outras razões se justifica que a UNESCO declara-se este centro histórico como Património Mundial em 1996.

Pormenor do Mausoléu de Ismaïl, Meknès, Marrocos.

Lago Agadal, Meknès, Marrocos.

Bab el Kamis, Meknès, Marrocos.

Interior do mausoléu de Ismaïl, Meknès, Marrocos.

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